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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Dia de reis, sem saber ler

Pi, 06.01.17

Esta manhã, no centro de saúde, uma senhora veio pedir-me que lhe lesse três cartas (nada de muito romântico, EDP, SMAS e Egas Moniz) por não saber ler. Li, naturalmente, mas não pude deixar de pensar no que é um mundo sem saber ler. Eu sei que se sobrevive, sei que as pessoas se desembaraçam como tiver de ser - "às vezes peço aos meus vizinhos", disse-me - mas até o pormenor de incerteza - "esta  deve ser do hospital", apontando para o logo verde no envelope - me fez pensar como será viver sem uma pista do que diz seja onde for. Quem nunca soube, possivelmente não sentirá um abismo, mas é essa a imagem que me vem à cabeça. Um vazio enorme de informação. Mas são pessoas ricas de outras coisas, dir-me-ão. E eu digo, para já, que isso é um piroseira, e depois, não é só não ler jornais ou livros, é mesmo um logo não nos parecer certo. Também já soube de casos de uma pessoa que até às compras vai e nunca se engana, e aproveita promoções. Não se fica um atado sem saber ler, eu sei. Eu saber é que estraga isto tudo. 

Tinha reparado no casal antes, ouvi a senhora perguntar "já chamaram o nosso?", o marido responder primeiro um pouco brusco "não", como quem diz "ainda aqui estamos", mas depois percebeu e respondeu "para o nosso não". 

Quando a mulher me abordou, ele manteve-se no lugar, calado, olhar em frente. Pode não saber ler, mas não baixa os olhos perante a sua fraqueza ou o desembaraço da mulher. 

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