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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Querido diário, fui à Ameixoeira ver um jacarandá

Pi, 01.06.24

 

Estamos na altura dos jacarandás, que me lembrarão sempre sair da escola, pela Av. Pedro Álvares Cabral até ao carro, a admirar chão e céu em tons lilás, onde noutras alturas havia folhas amarelas caídas e árvores despidas. Eram umas semanas de beleza mágica.

Ainda gosto de os ver, um pouco por todo o lado nesta altura do ano, e ontem fui ver o da Ameixoeira. Ouvi falar nele no podcast "Lisboa e os lisboetas", de José Sá Fernandes, que decidou um episódio a estas fronteiras da capital. Logo no início há uma menção a um jacarandá que fica na antiga Quinta de Santo António, e ontem fui em busca da dita.

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Não conheço a Ameixoeira, mas não foi difícil situar a parte mais antiga, e pela descrição feita no podcast, fui seguindo casas e ruas que me pareciam levar até lá.

Pelo caminho, vi ao longe uma bola saltar muro da Academia de Santa Cecília fora. Quando cheguei mais perto da escola, vi a bola sozinha, num largo em frente. 

- Olhe, desculpe...Boa tarde, pode apanhar essa bola? 

- Ok. - Apanhei a bola, mas a voz era de uma criança numa janela com grades.

- Consegue atirá-la por cima daquele muro? 

Olhei para o muro. Alto, mas alcançável, a minha dúvida era o meu jeito ou força para o efeito. Atirei-a duas vezes e das duas a apanhei de volta - menos mal, dispensava o embaraço de andar de rabo para o ar atrás de uma bola. À terceira lá me ocorreu outra forma:

- Já sei. - E virei-me de costas para o muro, para a voltar a lançar.

- Ah, pois é! - Gostei deste suporte da criança que esperava que a bola voltasse ao jogo com os amigos.

Sucesso, lá foi ela. 

- Obrigado! Bom fim de semana! - Educado, apreceiei. Devolvia-lhe mais 3 ou 4 bolas. 

Segui caminho. Não andei muito até avistar a copa, que só podia ser da árvore que procurava.

Acredito que já tenha sido maior, mais frondoso, mas não deixa de ser imponente. O cenário é idílico, apesar da deterioração da quinta, o que ainda assim contribui para uma decadência bonita.

A vidinha é cá fora, não esquecer.

Ontem, hoje e amanhã. Sporting sempre.

Pi, 17.05.24

- Isto hoje só nos deitamos lá para as 3, 4 da manhã, há aqui muito trabalho.
Dizia-me o meu avô, quando falávamos ao telefone, antes de eu ir lá a casa passar uns dias de férias, talvez para me convencer que os dias no quintal, no seu barracão cheio de ferramentas - incluindo um torno onde eu insistia, ou teimava, em meter os mini-dedos, entalado-os inevitável e previsivelmente naquela parte que se roda para o apertar - seriam bons e atarefados. Não que fosse preciso, eram sempre dias bem passados.

O meu avô era do Sporting, como o meu pai, tios, primos e amigos da família. A minha referência vem daqui e muito do meu avô, que no dito quintal tinha um divertido e peremptório "Solar dos Leões" num azulejo. E eu queria pertencer ao solar. 

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Passando para os dias de hoje, amanhã será a primeira vez que me dirijo a Alvalade (no estádio já-não-tão-novo, claro) para festejar um campeonato. É sabido que em 20/21 o celebrámos em todo o lado menos na nossa casa, devido a confinamentos e dias que nem vale a pena lembrar. Amanhã saio de casa e, mesmo que não o diga, vou o caminho todo a pensar "aqui vou eu, campeã de Portugal, juntar-me a outros campeões, comemorar com os verdadeiros campeões nacionais, na nossa casa". Levo as minhas unhas em verde e branco, entre as quais uma Stromp e uma listada, que estão comigo desde dia 3 de Maio (muita fé no coração, o sportinguista é assim) e já foram ao Marquês, e o colar que fiz, com o mantra que vem desde 2020 "e se corre bem?".

E não será um jogo como os outros, a ordem de trabalhos é extensa. Há um jogo para ganhar, uma taça a receber, jogadores e staff a celebrar, incluindo Essugo do outro lado, cânticos e aplausos até que a voz e as mãos me doam, despedidas a fazer (pretendo fazer apenas duas, recuso tudo o que não for Neto ou Adan, já referidos pelo mister como fazendo os seus últimos jogos em Alvalade). Merecemos ser felizes e um último jogo em casa vem mesmo a calhar.

Eu não vi todo o Sporting que o meu avô conheceu, ele também já não viu grande parte do meu. Mas amanhã, com a festa que se adivinha, e por que tanto esperámos, volto a pensar nele: "isto amanhã só nos deitamos lá para as 3, 4 da manhã".

Este até pode ser um dia de flores

Pi, 08.03.24

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É Dia Internacional das Mulheres. É também dia, pelo menos nacional mas acredito que aconteça no mundo todo, também do "Do do Homem não se fala...". Enfim, quem escolhe ficar por aí está a tempo de fazer um caminho. Ou não, cada um sabe de si.

Já foi um dia que parecia simplesmente de receber flores, ou talvez eu só visse isso. Cada vez mais se vêem iniciativas que mesmo que passem pelo cravo ou a rosa oferecidos, passam também uma mensagem alusiva à data, um alerta, com mais ou menos informação, mas o caminho lá se vai abrindo. Há quem goste, há quem precise, há quem não se reveja, há quem não ache necessário, há quem embirre.

Eu já estive mais ou menos aí, implicava com as flores à saída do metro, evidenciando o meu género, aquele que carecia de uma planta para ser celebrado. Aquilo não me parecia ter grande sentido, queria fugir e  dizer "mulher és tu, deixa-me!". Podia ter tido a calma de pensar em motivos, que havia razões, mas há coisas que só a (matur)idade me deu serenidade para olhar e não só ver.

De lá para cá, observei, ouvi, li, olhei mais em volta e em alguns - a meu ver nessa altura - exageros, fui encontrando o meu equilíbrio. É essa  a utilidade dos exageros e posições mais extremas, tenho para mim, encontrarmos o nosso ponto de equilíbrio, o que conseguimos assumir e suportar. Não ponho de parte que o radicalismos possa servir para alguém neste caso a igualdade, mas até agora não me meti por aí. 

Dou por mim a simplificar, perante a resistência que também já foi a minha: "repara, nascer mulher significa não poder ir à escola em alguns países. Imaginas não termos ido à escola?!", mas há mais, tanto mais. A escola é uma referência mais comum e imediata, mas há um mundo de desigualdades que não estão necessariamente no nosso quintal. Não vou discorrer sobre isso, não fujam se leram até aqui. Este post pretende apenas marcar uma mudança que foi para mim, e só para mim, evolução.

Não fiz todo o caminho, sei lá se posso dizer que fiz o início. Sei que me faltam atitudes, mais que conceitos. Sei que a sororidade é uma longa estrada. Vejo-lhe o fim, mas há altos e baixos, convicções e ideias enraizadas. Vou-me descontruindo ao meu tempo, para uma melhor versão  de mim. Talvez também tenha de fazer as pazes com alguns destes clichés e o cinismo com que os olho, mas agora me fez sentido usar. Talvez este post tenha ficado meio encriptado, mas não quis fazer aqui uma dissertação sobre o assunto, nem sei se o sei fazer. Importava-me aqui deixar mais um passo dos que tenho vindo a dar. 

Dêem e recebam flores neste dia, se assim o entenderem. Mas informem-se, celebrem-se verdadeiramente, acima de tudo olhem-se como iguais, vejam o que ainda há por fazer, e saibam que há mais por trás de pétalas e arranjos. 

"O Retorno" - Dulce Maria Cardoso

Pi, 16.01.24

 

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1975, Luanda. A descolonização instiga ódios e guerras. Os brancos debandam e em poucos meses chegam a Portugal mais de meio milhão de pessoas. O processo revolucionário está no seu auge e os retornados são recebidos com desconfiança e hostilidade. Muitos nao têm para onde ir nem do que viver. Rui tem quinze anos e é um deles. 1975. Lisboa. Durante mais de um ano, Rui e a família vivem num quarto de um hotel de 5 estrelas a abarrotar de retornados — um improvável purgatório sem salvação garantida que se degrada de dia para dia. A adolescência torna-se uma espera assustada pela idade adulta: aprender o desespero e a raiva, reaprender o amor, inventar a esperança. África sempre presente mas cada vez mais longe.

Comecei a ler Dulce Maria Cardoso,  pel' "Os meus sentimentos", que cá hei-de deixar também. Mas é "O Retorno" que me traz desta vez.
"O Retorno", pela voz de Rui, um rapaz de 15 anos, fala-nos da vinda para Portugal de famílias que viviam nas colónias portuguesas em África. Numa só voz, a de Rui, conseguimos perceber a experiência de diversas personagens, de diferentes idades e vivências até então. A vida em Lisboa não é fácil para ninguém. Saber como foi a vida de quem veio de África, contra sua vontade, contra toda a expectativa que a vida prometia.

Toda a vida conheci quem tivesse pais vindos de lá, quem lá tivesse nascido. Sempre conheci o termo "retornado", vivi não muito longe de um dos hoteis que os acolheu. Mas tirando uma ideia generalizada de que eram pessoas com um espírito mais leve, que ía ouvindo, sabia muito pouco sobre estes regressos, este retorno. Agora sei que sabia nada.

Em pinceladas, sem impingir ou evangelizar, Dulce Maria Cardoso faz chegar-nos uma descrição do dia a dia destes portugueses, o impacto nos, e dos, que cá estavam. Mentalidades da altura, experiências de vidas antigas, personagens memoráveis (como o castiço Pacaça, "o retornado mais retornado do hotel"). Gostei sobretudo de me sentir transportada àquele hotel, àquela Lisboa fria, aos contentores no porto, espreitar hábitos e formas de pensar - "um homem que me ensinou a respeitar toda a gente" -, perceber a cisão entre quem veio e quem estava - "um dos retornados que responda, o retornado da carteira do fundo que responda".

São muito evidentes (actuais até) os rótulos e ideias feitas de parte a parte, o tratamento condescendente de quem sempre se achou certo, mas nunca saiu do lugar. Não sei se mudámos muito.

 

Imagina...

Pi, 08.01.24

Dou por mim muitas vezes a descrever uma ideia, uma imagem começando com "Imagina", como "mas, imagina, se for assim ou assado". Este "imagina" que dizemos antes de começar uma frase - quer dizer, eu digo, mais alguém? Ouço-o por todo o lado, de há uns tempos para cá.

Não gosto muito de ter bengalas na linguagem, mas de vez em quando lá aparecem, agarram-se-me ao discurso e ficam uns tempos. "Imagina", antes de explicar alguma coisa, ou a meio de uma ideia, tem sido a mais flagrante dos últimos tempos. Mas também me faz pensar como não a usávamos antes, ou mais vezes. O que diríamos antes deste "imagina"? Talvez fosse o "por exemplo", ou "imaginemos".

Do que eu não gosto é de dar por mim a dizer constantemente "imagina", "mas, imagina...", canso-me de me ouvir. Nem é das piores expressões, repetições exaustivas à parte. Pedir a alguém que imagine devia ser sempre uma coisa boa, embora este que digo não tenha só esse sentido. É muitas vezes uma vírgula, uma mudança de direcção quase, outras substitui um "repara".

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Por outro lado, lembra-me o "Picture it!" da saudosa Sophia Petrillo, de "Golden Girls" ("Sarilhos com Elas" por cá) e eu não tenho nada contra ser Sophia Petrillo. Porque, imagina, tu que me lês até aqui, a Sophia tinha sempre a melhor punchline da série.

Imagino que me habite o discurso por mais um tempo, há coisas piores.

Ano Novo, Bom Ano!

Pi, 03.01.24

Assustam-me resoluções e pontos finais, ainda não domino começos determinados e devia. Tenho ideias, planos a concretizar, mas o passo em frente demora sempre. Por isso o início do ano não costuma ser de vida totalmente nova para mim. Começa o ano e é fácil ter uma sensação de recomeço e renovação. Mas é sempre preciso tomar uma atitude, avançar para o novo objectivo. 

Também sou da escola que vê resoluções como pressão, imposições mesmo que a nós próprios, que feitas só porque sim não me fazem sentido. As resoluções são muitas vezes coisas que devíamos estar a fazer, gostávamos de já ter feito, aproveitamos este empurrão do novo ano, nova página (outro cliché da época), para avançar.

Sou eu, não és tu, resolução.

Agora vou ali ver se dou mais uns passos em planos com algum tempo.

No mesmo dia em Brescia - Stadio Mario Rigamonti

Pi, 29.12.23

O Brescia - Sampdoria começava às 16h e eu sabia que não levava muito tempo a chegar do centro ao estádio, mas fui com alguma antecedência para lá.

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Voltei ao metro e saí na estação Mompiano, a partir da qual segui os cachecóis azuis e brancos. Para chegar ao meu lugar, dei uma volta quase inteira ao estádio, o que me permitiu ver o que se passava em volta, o ambiente, os adeptos, o dia de jogo. Comprei um cachecol da equipa da casa - gosto muito da Sampdoria, mas não quis má vizinhança, um dia irei a Génova resolver isto -  e segui para o meu lugar.

O Stadio Mario Rigamonti - nome de um defesa nascido em Brescia, que morreu no desastre de Superga em 1949 - fica emoldurado por montes e colinas e tem uma capacidade para pouco mais de 16 mil pessoas.

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Tal como em Parma, a bancada que me esperava parece um andaime enorme, forte e feio visto do lado de fora, mas firme e estável para o chamado "ver a bola". Tinha escolhido um lugar a meio - meio campo e também a meio em altura -, estava no centro da central, digamos assim.

O primeiro anel tem cadeiras, mas termina num civilizado peão, onde há pessoas a coniver o jogo todo. Segue-se o meu sector, a uma altura simpática, mais com famílias e uma equipa talvez de sub-11 do Inter, de miúdos muito animados, que se juntaram a um grupo de cantava e animava as hostes daquela bancada. Acima mais uma bancada, mas o estádio não é muito alto.

Eu gosto destes estádios antigos, com algumas renovações, mas nada a ver com o futebol moderno, das primeiras ligas. Neste ainda se vê a bancada antiga por trás da nova, num dos topos.

O jogo era um Brescia - Sampdoria, da serie B italiana. Do Brescia guardo memória de Baggio lá ter passado, ao mesmo tempo que Pirlo surgia. Da Sampdoria sempre gostei muito, nem vou aqui discorrer sobre 90/91, para o post não ficar longo - além disso comprei um livro

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sobre essa época, haverá tempo para me dedicar ao assunto. Então, apesar de ter comprado um cachecol do Brescia, não estava propriamente a torcer mais por uma vitória de um ou de outro. Além disso, o treinador da Sampdoria é Pirlo (já o ano passado apanhei a equipa de Cannavaro e o seu regresso a Parma, sem querer apanho momentos muito românticos).

Ficou 3-1 para o Brescia, pelo que ganhei mas também perdi.

Um dia em Brescia

Pi, 26.12.23

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Ainda na minha última viagem a Itália, guardei um dia para ir a Brescia, que fica a menos de uma hora de comboio de Bergamo. Escolhi Brescia porque queria ir a um jogo de futebol e o Brescia jogava de tarde com a Sampdoria. Havia jogos da serie A, mas eram fora de Bergamo, à noite, não me quis meter em aventuras maiores. Além disso, a serie B é sempre encantadora, não é muito cara, e leva-me aos anos 90, já o ano passado o senti num Parma - Benevento. 

Mas antes do jogo havia uma nova cidade para ver. O dia estava bonito, sem nuvens e céu bem azul, um tempo que favorece sempre a paisagem e as fotos a tirar.

Saí de Bergamo pouco depois das 10h, chegando a Brescia pelas 11h. Da estação de comboio desci ao moderníssimo metro, comprei bilhete para o dia todo e segui para a Piazza Vittoria. Era dia de feira e a praça estava muito animada.

Já tinha lido que as 3 (3!) principais praças de Brescia eram quase coladas umas às outras, por isso comecei por esta, segui para a lindíssima Piazza della Loggia, onde continuavam a feira e animação. Tomei um saboroso cappuccino, cheio de densa espuma, imprudentemente perto do meio-dia (mas não resisto), no Caffè della Stampa.

Dali saí para a Piazza Paolo VI, onde ficam os dois Duomo da cidade, Duomo Nuovo (datado do séc. XVII) e Duomo Vecchio (do séc. XII). Aqui já não se avistavam bancas e feirantes, mas a animação continuava, pelas várias esplanadas, cheias num convívio de pré-almoços de domingo. 

Prossegui no passeio pela História, para o forum romano de Brescia - mais uma praça central,esta do séc I AC, embora já não funcione como tal  -, Brixia na altura. Gosto muito desta harmonia entre ruínas e monumentos de várias épocas. O forum de Brescia não é grande, mas está bastante composto para se ter uma ideia de como seria na altura. Todo o complexo arqueológico foi declarado Património Mundial pela UNESCO.

À hora de almoço consegui lugar no piccolo e acolhedor Ágora Caffé, graças à disponibilidade e sentido prático do não-sei-se-dono mas estava a organizar mesas e pedidos. Um serviço simpático e rápido. Almocei casoncelli alla Bresciana, porque estva nesta senda de provar esta pasta tradicional da zona. 

Depois fui tomar um café e, porque isto também faz parte da vida de viajante/turista, carregar o telemóvel para o MacDonald's do sítio, para que até ao fim do dia não me falhasse a bateria. Não tinha a certeza se no futebol deixariam, por isso não levei powerbank.

Perto das 15h comecei a dirigir-me ao estádio, conto num próximo post.

"A Criada" de Freida McFadden

Pi, 21.12.23

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"...lá de cima é feita de papelão"

Canções infantis bizarras à parte, é verdade, li "A Criada", de Freida McFadden. Sou assim, não posso ver um fenómeno que põe pessoas a ler, fico curiosa e quero saber o que lá vai dentro. A curiosidade - não só neste campo - será o meu fim, estou quase certa. Mas enquanto não o é, vou sabendo um pouco mais de... pessoas...? Não sei bem.

Uma sinopse:

Este emprego caiu-me do céu. Talvez seja a minha última oportunidade para mudar de vida. E o melhor de tudo é que aqui ninguém sabe nada acerca do meu passado. Posso esconder-me e fingir ser aquilo que eu quiser. Infelizmente, não tardo a descobrir que os segredos dos Winchester são muito mais perigosos do que os meus…

Bom, o que achei do livro? O que esperava, é um page-turner, o que pega mais facilmente que outro tipo de livro. Não é óptimo nem definitivamente péssimo, é um thriller um pouco previsível embora também consiga surpreender, porque até vemos onde vai dar, mas dá umas voltas até lá chegar. Não só me foi surpreendendo aqui e ali, como admito que me arrepiou numa cena em particular, quase no fim. Lembrou-me "Gone Girl", no mais positivo sentido possível, na medida em que nada é o que parece e há segredos em cada canto. Não li, mas gostei muito do filme quando o vi.  

"A Criada" lê-se bem, mas eu devia ter lido a versão original, não gostei muito da tradução. Percebo que haja expressões idiomáticas dificeis ou desafiantes, mas quando o português me soa inventado torço o nariz: por exemplo, há uma frase  "a minha coluna transforma-se em líquido" numa situação de tensão, se a usamos - mea culpa - desconheço. E - admito que esta é uma embirração minha - por que é que tradutores usam e abusam do verbo "perscrutar"? Eu sei que esta é uma palavra portuguesa, está bem usada no contexto, mas há sinónimos mais coloquiais, "perscrutar" faz-me sempre tropeçar na leitura.

Enfim, história é bem construída e cativa, cumpre e entretém, não se perde em ler, percebe-se porque é um livro sensação. É preciso que se leia mais, e incluo-me o mais possível nisto, leio actualmente menos do que gostaria. Então olhem, cada um lê o que entender e está tudo bem.

PS: Mas se puderem, leiam o original, é capaz de melhorar a experiência.

 

De/o Acordo

Pi, 17.12.23

Quando chego a casa é um alívio despir o acordo ortográfico. 

Também não o uso nas minhas redes, verdade seja dita, mas a primeira frase fica mais bonita como está, digo eu. O Acordo entrou-nos vida dentro pela escola ou pelo trabalho e nem todos tivemos como lhe fugir.

Já há gerações que aprenderam com ele, e facilita uniformizar, bem sei. Não sou uma feroz opositora, já fui mais crítica da coisa, mas não me ofende. Já dei por mim a usá-lo em mensagens privadas, no whatsapp com amigos, até. Se por exemplo alguém me escreve sem acordo ortográfico e respondo usando alguma das mesmas palavras, também me sinto arrogante se a escrever com a grafia antiga (que continua a ser a minha), por isso não o faço.

Mas continuo a achar absurdo que o pê caia do Egipto, se o egícpio continua a ter de o carregar. Chateia-me muito quando teimam comigo que contacto "já não tem c", se até o lêmos. Letras que se dizem - tenham lá paciência - não omito, seja onde for. 

Em suma, uso-o profissionalmente, evito-o fora disso, embora já me espreite a vida privada. Já não me aborrece tanto, só que ainda me apetece usar pês e cês mudos, deixem-me cá.