Rita, Mónica e Bárbara estão numa esplanada.
Rita - Então vá, meninas. Que é que querem, para pedirmos ao senhor?
Mónica - Eu quero uma italiana. Em chávena fria, por favor. Com adoçante.
Bárbara - Para mim é um abatanado, em chávena escaldada. Pode ser pingado? Com açúcar.
Rita - Eu quero um café, obrigada.
Mónica e Bárbara entreolham-se, como se o pedido de Rita fosse estapafúrdio. O empregado retira-se.
Bárbara - Ah Rita, devias ter ido connosco à reunião do liceu, foi tão giro!
Rita - Ai, por favor... Eu não vos percebo. Essa ideia peregrina de encontrar pessoas do passado. Mas passado daquele à séria, da Pré-História! Eu gostei muito do liceu, mas para quê mexer no passado? Agora com as redes sociais, tão avançadas, é tudo a correr para trás. Não percebo, pronto.
Mónica - Ó Rita, foi giro sim. Se tivesses ido tinha tido muito mais para falar, a Bárbara não tem a nossa lata. Já a teve, mas agora tudo lhe parece mal.
Bárbara, nervosa, apressa-se a justificar:
Bárbara - Mónica, eu não me importo de comentar as pessoas, agora dizer à Luisa que mais valia congelar a cara e ir à reunião dos cinquenta anos que já estava bem assim, não digo.
Mónica e Rita riem. Bárbara descontrai e acaba por rir também.
Bárbara - Devias ter ido, perguntaram tanto por ti. E é giro saber como estamos, quem casou, quem teve filhos...
Rita - Ora aí está. Quatro filhos não me deixam muito tempo para isso. E mais?
Mónica - E quem não teve...
Bárbara - Pois! Também, também!
Mónica dirige-se ao balcão, as amigas continuam a conversar.
Rita - Ai Bárbara, tu francamente, que mania.
Bárbara - Saiu-me, pronto! A Carolina também não tem filhos. Coitada...
Rita - Coitada? Mas aconteceu-lhe alguma coisa? Está doente ou assim?
Bárbara - Não, não. Não teve filhos, é isso.
Rita - Ah, mas está tudo bem com ela, não está? Não estava num lugar bestial lá na empresa, com uma casa espectacular e uma independência de morrer de inveja?
Bárbara - Sim, isso sim.
Rita - E do que me lembro, ela nunca teve grande intenção de ter família.
Bárbara - Pois, mas eu achava que isso seria uma fase...
Rita - Claramente não era, então não será “coitada”...
Bárbara - Sim, mas não é mãe...
Rita - Ai Bárbara, tens de perder essa mania de que as pessoas só são alguém depois de parir.
Bárbara - Mas tu tens quatro filhos, como podes falar assim?
Rita - Por isso mesmo! Eu antes era alguém. Agora sou a mãe da Joana, do Miguel e do Pedro. Muitas vezes sou a mãe do António. Do António, repara, que nem idade para ser gente tem! No entanto, eu já só sou a mãe dele.
Bárbara - E então, eu sou a mãe do Rodrigo.
Rita - Eu sei, eu sei. Só falta trocar o nome nos cartões de visita e e-mail, para deixares de ter personalidade.
continua...