Hoje é dia de Carlota
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Eu - como tanta gente - pensei muitas vezes o que seria a pediatria num sitio como o IPO. Todos queremos distância de tal sítio - do IPO todo, não só da pediatria - por todos os motivos e mais algum, se a pudermos ter. Nunca tinha lá entrado, nunca tive de lá ir.
Ouvi muitas vezes e provavelmente também o terei dito que a ala pediátrica devia ser dura, que voluntariado simmas ali não. Falamos muito, nós.
O ano passado dei comigo a ir ao IPO com uma criança de pouco mais de um ano, a Carlota. Acompanhei dias de análises, consultas e exames e várias horas de espera de resultados, quer no Hospital de Dia quer no piso do Serviço de Pediatria. Vi crianças em tratamento, umas pacientemente à espera do fim, outras mais agitadas. Vi pais mais resistentes que outros, vi pais permitirem-se um desabafo lá fora para aguentar mais um pouco junto dos filhos.
Testemunhei como o pessoal é dedicado e orientado para as crianças, vi os doutores palhaços acocorados cantar para a Carlota enquanto ela comia e não sabiamos se a sopa ía ficar ou voar no minuto a seguir. Não é um mundo de que se queira fazer parte, mas estando lá as coisas são feitas para que seja o nosso mundinho enquanto for necessário. E bem. E é.
Não, nunca me "fez impressão", no dia em que entrei pela primeira vez no Hospital de Dia o drama da minha cabeça foi-se. Não por não ser dramático o que lá se passa, naturalmente que é, mas o meu drama e o de tanta gente estava deslocado, não era por ali.
Vi muitas crianças, muitas. Uma que fosse já era demais, mas vi várias. E foi ao ver estas crianças que percebi como quando dizemos que não eramos capazes não podiamos estar mais longe da verdade. Eu acredito que muita gente não fosse capaz de ali estar, respeito a resistencia de cada um. Mas passa-se a porta e não é sobre nós, passa a ser sobre eles. Comigo foi automático, sem esforço. Entrei e ali contavam só aquelas crianças, eu não, não as impressões, não os dramas de conversas ditas sem saber na pele sobre as coisas. Eu poderia eventualmente ajudar no que pudesse e não atrapalhar. A Carlota e os outros meninos é que importavam ali dentro.
Outra coisa de que as pessoas têm receio é de ver crianças em sofrimento. É claro que haverá níveis e casos para tudo, é claro que em pediatria há pré-adolescentes e é bem diferente com eles, sentem tudo de outra forma e torna-se mais duro nesses casos, admito. Mas muitas das crianças que vi temiam as "picas"- viam um enfermeiro e de beicinho queixavam-se "não... tu dás pica" (e o meu coração desfazia-se mais um bocadinho) ou de tirar adesivos, do repelão na pele. Isto comoveu-me de uma maneira que não sei explicar, problemas tão piores as levavam ali mas os medos delas são muitas vezes estes. A verdadeira e mais pura inocência. A mesmo inocência que as faz pedir aos pais para irem mais cedo e poderem ir brincar no Lions antes das análises, exames e tratamentos.
O meu fantasma de fazer voluntariado num lugar assim foi-se. Não seria fácil, não tenho essa ilusão, mas hoje sei que teria a força que um dia achei não ter. Eles não choram o que lhes aconteceu, quem sou eu para me sentir fraca perante isso?
Cortesia ali do Arcebispo de Cantuária que, agora vejo, nos acompanhamos nestas andanças virtuais e do riso há cinco anos, pelo menos.
mas se tenho de ler prefiro que não haja letra. Manias. Por isso quando há leituras e pesquisas a fazer, recorro aos clássicos.
Hoje, Brahms no Spotify. E eis senão quando soa isto:
E eu, que palavrinhadonra sou tão distraída e esquecida para umas coisas e tenho tanta memória para outras, só me lembro de Queijinhos Frescos:
Ontem fomos todos Charlie, hoje ainda somos todos Charlie, amanhã talvez menos, depois menos e assim sucessivamente. Sem censura nem problema, somos assim e não nos vamos esquecer disto nunca, tenho essa certeza, digamos ou não que somos Charlie.
Dizia, fomos todos Charlie, escolhemos ver ou não as imagens brutais do ataque.
Lemos o Gustavo Santos e optámos por falar ou não sobre a tontice do Gustavo.
Escolhemos, fomos livres de ver, criticar, gritar e espernear. E somos. Porque somos Charlie e não é de ontem.
Ao fim do dia os censores de serviço eram muitos. Dos que não queriam ter o vídeo à frente do nariz aos que não acreditavam que houvesse quem não tivesse emitido uma palavra sobre o assunto o dia todo. Só não cheguei a ler "já chega de Charlie Hebdo", mas pode ter sido só distracção minha, é a afirmação clássica em dias dominados por um só assunto, seja qual for, nas redes sociais.
Portanto, não gostamos do que pensam os Gustavos Santos mas queremos que toda a gente fale. E quantos mais Gustavos haverá? Muitos, não duvido. Por mim, tudo bem, todos temos direito a expressar-nos. Como a estar calados, se assim o quisermos. As pessoas cansam-me, no fundo é isso.
E não vejo isto como Islão contra Ocidente, e mesmo a liberdade de expressão me custa que seja o estandarte para uma coisa tão triste e animalesca. Se as caricaturas foram o motivo, é estúpido. Se são uma desculpa para alimentar ódios, começar guerras, lançar a extrema direita, o que queiram, ainda é mais cretino. Isto foi uma atitude hedionda de umas bestas, sejam quem forem e quantas forem. Células de bestas, se quiserem. E massacres, entradas em edifícios para matar gente não são coisa estranha ao Ocidente, convenhamos. Portanto não me venham com o Islão inteiro que eu também não admito que me julguem por um Breivik.
O que eu sei, o que para mim hoje está a valer, é que aqueles grandes queridos que andaram aos tiros em Paris para calar caricaturas, conseguiram que hoje as houvesse por todo o mundo nas primeiras páginas dos jornais. Maior espalhafato não era possível. Ainda bem.
Enviado de Samsung Mobile
Então eu hoje - valha-me Deus - não tenho Shakespearada das antigas - e eu quero tanto saber e ver, senhores - e estava, para não variar, completa, total e dessincronizadamente na lua?
Eu - ai eu - quando estive em Londres gostei tanto do Shakespeare's Globe, mas não cheguei a ver lá nada, e agora quero tanto ver e tinha-me passado. Assim. De um dia para o outro.
Mamãe ligou a lembrar. É que nem disfarcei. Falou-se nisto ainda a semana passada, mas os fins de semana acabam, as segundas começam, arranjam-se estas desculpas, e uma pessoa esquece-se. Eu, sou eu que me esqueço, comecemos o ano a assumir estas coisas.
Eu faço destas mais vezes, muitas mais do que gostaria. Esquecer-me, trocar datas ou lugares. Felizmente tudo tem tido solução antes de ser precisa a emenda. Pior é mesmo quando marco duas coisas para o mesmo dia, aí é que é o fim da picada. Já não acontece há algum tempo, tentarei que não se passe mais.
Com isto não estou nada vestida para o teatro. A ver se improviso uma gola de Camões ali com folhas da Xerox.