Da vida de Pi... nilla.
Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases.
Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.
Da vida de Pi... nilla.
Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases.
Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.
Breve explicação do título: nível base porque o que faço no cabeleireiro é isso mesmo: lavar, cortar e secar o cabelo. Mas o post nem é sobre isso. Um dia viveremos num mundo onde os cabeleireiros terão uma sala de espera antes do "pode passar para lavar" e eu não vou ter de andar de ligar em lugar, de pé, sentada, baralha e volta a dar, "vou pedir essa cadeirinha... Pode sentar-se ali". Um desespero. Não venho muitas vezes cortar o cabelo, mas já fico ansiosa quando penso que enquanto espero o "pode passar para lavar" vou ficar no meio do corredor entre lavatórios e cadeiras, metida entre cabeleireiros, clientes e manicures, onde sou a intrusa, que só qualifica como cliente quando a lavadora-de-cabecas-mor do reino decidir que é a minha vez e eu puder então "passar a lavar". Neste momento sou esse ser não cliente, e como me mandar... Pediram, pois, pela terceira vez que mudasse de sitio, mesmo tendo a pessoa que me vai cortar o cabelo já dito que me lavavam o cabelo a seguir. Sim, depois também há esta coisa das tricas entre elas "ah não mandas ninguém sentar no lavatório onde quem manda sou eu." A sala de espera resolveria isto. Ficava-se à espera sem noção desta confusão, mando e desmando, e quando chamassem já era para lavar o cabelo. Era tão simples e melhor.
Enfim, entretanto lá me chamaram, lavei, cortei e sequei. Agora vou ali esticar a franja que ficou curta e já não estou habituada a ver as minha sobrancelhas.
É a segunda vez em quatro anos de toca que me vai morrer um pombo ao canteiro da varanda. É quase poético, não fosse eu morrer de medo de pássaros. Não, não melhora se for um pardal ou um gavião, são todos iguais com o seu esvoaçar imprevisível, as suas patas sinistras de três galhinhos e penas aos milhões. Da outra vez lá removi o corpo depois de umas duas horas de angústia, até que começou a escurecer e pensei "não quero dormir a saber que aquilo está ali". Tentei convencer-me que era uma parvoíce, o bicho até já estava morto, querer é poder e, calhava bem, eu queria-o dali para fora, ia correr tudo bem e talvez até me passasse o medo e o nojo. Correu bem, é um facto. Tudo o resto foi ao lado, não perdi medo nem nojo. O pânico, ao descer no elevador, de que o bicho afinal não estivesse bem morto e desatasse a esvoaçar nos sacos de lixo que meti uns dentro dos outros não fosse algum romper pelo caminho e eu ter de o voltar a apanhar com a pá do lixo, também ela lixo a partir do momento em que tocou naquele pedacinho de poluição com asas. Bom, passou e eu não saí nada melhor pessoa disso. O ano passado foi um ovo que lá ficou. Os pombos acharam o meu canteiro e a sua sombrinha boa ideia para por e chocar um ovo, eu achei melhor um canteiro perto de um jardim lá embaixo e fui lá deixá-lo. Até do ovo no caminho tive medo, senhores, e se a cria me nascesse na nova pá do lixo? Ou, lá está, no elevador onde insisto meter-me com os meus demónios? Bom, também correu bem, e também não saí mais forte desta vez. Agora novo defunto no canteiro e não me apetece nada repetir o processo. Deixei-o lá, parece que há mochos na zona e no fundo um pombo é um rato alado. Os bombeiros tratam disto? E aquela coisa do marido ir a casa? Não é de hoje que penso em ter um tigre na varanda. Vou considerar seriamente essa hipótese.
O meu passe está a dar as últimas. Sim, ao fim de 5 anos, também eu sou uma pessoa que fica a insistir com o chip no torniquete, a dobrar o cartão, a pressionar mais, menos, a deixar passar os outros para ninguém se enervar. Hoje numa das estações, um segurança, entre o solícito e o autoritário, veio prestar auxílio "posso?" disse ele em tom de ordem. Dei-lhe o cartão, partido na zona em volta do chip. Aqui revelou-se sensível e cristão: "Jesus Cristo!" para logo a seguir não querer ter nada a ver com o assunto: largou o cartão como se tivesse sarna "isso já não vai dar". Rosnei um calmo mas já impaciente "sim, mas ele dá" que o fez dar um passo atrás (foi tudo muito teatral, juro), e felizmente em três segundos a porta abriu mesmo. Devo dizer que os seguranças do Cais do Sodré têm outro trato, bem mais fácil. Ajudam, abrem a porta sem dramas e aconselham "amanhã se precisar, é só pedir ajuda".
De qualquer forma, claro que já me informei sobre a segunda via e perante o cenário, preferia os trabalhinhos de Hércules. Em 2015 pedir uma segunda via só não exige papel timbrado de 25 linhas, de resto é a burocracia total. Fui ao gabinete de apoio ao cliente para saber o que era preciso, uma vez que as filas na bilheteira eram grandes. Ia preparada para o "não é aqui, tem de ir à bilheteira", mas vá, não estamos assim tão atrasados no atendimento. Também me recuso a celebrar isso, porque devia ter sido sempre assim. Disse ao que ia e aqui começou uma espiral cada vez mais rápida de instruções: "preenche isto e entrega ali, e diz à minha colega que precisa de uma guia. E a minha colega dá-lhe isso, que depois entrega aqui. Se quiser urgência, como se calhar já não o consegue carregar, tem de pedir lá ao pé de si. Paga 12 euros mas tem o cartão na data em que este acaba. Pede lá, depois entrega à minha colega ali e pede que lhe dê isto para entregar aqui. Mas a guia pede aqui." Fiquei zonza. Entretanto consegui carregar, mas para ajudar, o recibo do multibanco saiu sem tinta. Espectacular! Também ouvi um "isto não é nosso" (sendo "Nós, a malta", os comboios) e que por isso talvez não me dêem a guia, e a devo pedir no metro - a guia que me permite circular, enquanto estes fofos demoram dias e dias a activar uma bodega de um cartão que abre portas - e até aposto que me deixam tratar de tudo com "eles" até ao ponto em que me dirão "ah... Mas não sendo nosso não lhe podemos dar a guia, e como já entregou não há nada a fazer...". Estou a ver o filme, tentarei antecipar-me, mas temo o pior. Não quero ser chata, mas isto em 2015 não devia ser um botão a dizer "2a via" com um procedimento burocrático longe dos olhos do utilizador, escondido atrás de um site bonito e tal? Esta mania de que somos servidores dos transportes que pagamos para usar, em vez do contrário cada vez me faz mais confusão. Um cartão de acesso não leva tanto tempo. Nem mesmo um cartão de telemóvel com todos os serviços e tarifários, por favor. Mas se eu pagar 12 euros fazem o jeitinho. Adoro.