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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Outono. The full experience

Pi, 20.10.15

Não não, eu não sou fã do cheiro a terra molhada, do outono todo cor de folha a cair, galochas e frio a chegar. Eu gosto do Outono como gosto do Inverno: aprecio os conceitos, as modas até, gosto de os ver lá fora comigo em casa, mas preferia viver sempre com sol e calor. Está desfeito o drama, avancemos.

Do que eu gosto mesmo é das castanhas e batata doce assada. As castanhas já não são o que eram, dizem-me. Que envoltas e cartuxo de lista telefónicae é que sabiam bem. Pois eu gosto delas também nestes pacotinhos que agora há, e até trazem um extra para as cascas (estou tão pouco habituada a civismos que a primeira vez achei que era engano, tinha vindo colado ao das castanhas). E assadas em casa, pois sim, claro. Mas aquele salzinho na casca das de rua, só mesmo nessas consigo.

E a batata doce? Notem,escrevo isto enquanto ao meu lado, fumegantes, três pedaços de batata doce escorrem amarelo. Não escorrem, vá, não é literal. Mas é uma imagem que gosto de alimentar. Sempre fui pela batata doce, o meu São Martinho sempre foi mais batata doce que castanhas, eram tabuleiros de batata doce em casa dos meus pais. Ai eu sei, eu sei que agora comemos batata doce com tudo, já não é só a Madeira a perceber isso, e ainda bem, mas esta é uma memória minha. Lavo a batata - deve ser o alimento que com mais terra nos chega, senhores - corto-a em pedaços e, requinte de malvadez, faço uns golpes na polpa. Vai ao forno polvilhada com sal, cascas para baixo, três quartos de hora a 180º. A magia acontece. Quando a vou buscar, está amarela, ali no limite do começar a derreter e escorrer amarelo pirex fora. 

O meu Outono é um bocadinho isto.

Esta foto já aqui esteve, eu sei

Pi, 02.10.15

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Gosto muito dela. 

Foi num internamento e era hora da Carlotinha almoçar. Andava-se de espreguiçadeira atrás, era onde comia melhor. Mesmo assim, era sempre uma incógnita como correria cada refeição, e internada maior o suspense. Foi nesta altura que eles entraram no quarto.
Faziam uma ronda, cantavam, animavam crianças e familiares se pudessem, e não podendo, respeitavam e mostravam-se solidários. 
No quarto da Carlota entraram quase em silêncio. Fizeram perguntas baixinho nas suas vozes de palhaço e observaram.
A Carlota, na espreguiçadeira, estava ao nível do chão. A mãe, para lhe dar a sopa, também. Os doutores palhaços não pensaram duas vezes. Foi nesta posição (da foto) que ficaram e tocaram baixinho o "Céu no fundo do chapéu", música ouvida diariamente em casa da Carlota.
A Carlota não vê, ouve e sente tudo, e eles perceberam isso em segundos e sem explicações. Acocoraram-se e tocaram, ao nível da agitação dela, que também sossegou. Foi nessa altura que tirei a fotografia. 
É esta dedicação e sentido prático que quem trabalha com crianças tem de ter, e não se paga nem se aprende em livros.
Eles andam por aí, por isso, se os virem, se puderem, sejam sorridários e ponham-lhes uma moeda na latinha.