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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Natal

Pi, 23.12.15

Ah, o Natal. Altura de amor, paz e tolerânc... espera chamas filhoses aos coscorões?! E sonhos às filhoses, às quais chamas velhoses? Quê?! Be-lhoses! Cada vez pior, não mereces o Natal!

 

Vá lá pessoas com Facebook e problemas por resolver, roupa velha e farrapo é o mesmo (a sério, se pensarem são mesmo sinonimos), e se têm nomes e hábitos diferentes no Natal, há formas civilizadas de o partilharem. Até pode ser engraçado respeitar o próximo, prometo.

Kill Bill

Pi, 01.12.15

Estive a rever ontem o primeiro. Gosto sempre. Lembro-me de o ir ver ao cinema com algum receio da violência e do sangue e depois passar o filme alternando entre o tapar os olhos numas cenas e o riso noutras bem sangrentas. Não sou eu que sou sádica (talvez seja um bocadinho de uma unha arrancada com alicate, vá), o sangue em Kill Bill é propositadamente disparatado. Isso dá um quentinho, diz-nos que vais ficar tudo bem. Sujo, mas bem. 
Os dois Kill Bill (gostava que o plural pudesse ser "Kis Bis" ou "Kill Bis", só porque sim) têm um bocadinho de muitas coisas. Têm manga, têm humor, sangue arrepiante, sangue cómico e depois há ainda a banda sonora, que ouvi meses a fio. Continuo a gostar muito de Malagena Salerosa ou Urami Ibushi.
O ponto onde compreendo em todo o seu esplendor o belo embrulho que é Kill Bill, o laçarote salpicado de sangue são dois traumas da minha infância, que figuram um em cada filme.
Se calhar são traumas dos 70s e 80s, mas eu era uma criança, logo são da minha infância. Um é o escalpe - no Kill Bill não é bem um escalpe, mas a cena final de Oren Ishii remete-me para isso. Escalpe a sério, com chiar e tudo, Tarantino guardou para "Inglourious Basterds" - em pequena tinha fascínio com índios, era sempre pelos índios, adorava penas na cabeça, franjas e mocassins de camurça, as pinturas de guerra e o cachimbo da paz. A minha primeira caixa grande de playmobil foi um acampamento índio. Era uma pequena apache, pintava a cara para brincar, vestida de Cenoura. 
Um dia tropecei, num livro, nesse hábito índio que era o escalpe. Achei aquilo um bocadinho arrepiante, imaginar que os homens voltavam da guerra cheios de cabelos de cowboys e soldados mal arrancados, e diziam "ajuda a tua mãe a secar isso" tirou um bocadinho a vontade de crescer numa reserva. 
O outro trauma é o ser enterrado vivo. Graças a Hitchcock não devo ter dormido uma semana, teria uns oito ou nove anos. Deixem-me, só havia dois canais e lá em casa à sexta, víamos o Hitchcock. Mais do que cenas de afogamento, pessoas vivas debaixo da terra dão-me fala de ar. O pânico, o horror. Até à idade em que vi esse episódio de Hitchcock jamais tal cenário me tinha passado pela cabeça. A partir daí passou a estar no top dos meus horrores. Em Kill Bill voltei a ver uma cena assim. A Noiva não podia ficar por ali, eu sabia. Ainda assim, respirei fundo umas vezes enquanto a cena durou. 
Kill Bill é mais, mas também é isto. Se me dá medo, se me arrepia, para que vejo? Oh, o cinema é mesmo isso, e é assim que o quero para sempre.