Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

12 anos de D

Pi, 13.10.16

IMG_20161013_172210.jpg

 

Enquanto não começa o Sporting, e o dia de anos do D, que até é do Benfica, ainda dura, celebremos com mais uma memória. 

Conto muitas vezes estas duas  histórias mas acho que nunca as deixei escritas, e são dos momentos mais hilariantes, deliciosos e tão d-escos a que assisti ainda ele era pequenino. 

Na primeira, o D teria uns três anos e foi com o irmão J a minha casa - ainda dos meus pais na altura - e na cozinha, provou mel. A cena que guardo é: o J, de olhos grandes e vidrados no irmão, ao colo da minha mãe, sentados à mesa da cozinha, eu de pé, ao lado do D. E ele, a estrela deste momento, no meio da cozinha, calções de ganga e t-shirt. Come uma colher de mel, levanta a cabeça,  fecha os olhos com um "mmmmm..." e quando os volta a abrir, declara: "É MACIOSO..." 

Aproveito para dizer que "macioso" é um termo ainda hoje usado por mim, pela minha mãe e uma ou outra amiga a quem contei. 

 

Na outra história ele era mais pequeno, teria dois anos e muito pouco. Tínhamos saído - eu, com ele e os pais - e no regresso ao carro, o D reclamava com qualquer coisa com que bebés de dois anos reclamam. Já  falava, mas não me lembro do que dizia, demos pouca atenção ao refilar, não era dramático sequer, era uma resmunguice lá dele. 

Enquanto a mãe o sentava na cadeirinha, lhe punha o cinto e ia dizendo: "sim, D...  Pois, D...", ele - totalmente dependente, relembro, dois anos, mãe a prendê-lo na cadeira de bebé - de voz de bebé, fala de bebé, olhar e bracinho desafiantes, conclui o protesto:

- Então, vou pro Algarve! 

 

Sim, ainda estou a rir. Rio sempre que me lembro. 

Do contornar as regras

Pi, 07.10.16

É sabido que o português gosta de contornar a regra. Ou talvez não seja uma coisa nacional, e outros o façam. Admito que seja humano. A última a que assisti é quase cómica, não fosse absurda. 

Apanhei um táxi um dia destes - também ando de uber, não sou esquisita -, e reparei no sinal de falta de cinto posto. Dlin...dlin... Não era o meu cinto. Dlin...dlin... Era claramente o do condutor, que pega numa peça, o encaixe do cinto mas sem o dito cinto, só a peça que encaixa. Ouço o "clic", o sinal pára, e o taxista  continua sem cinto. Só assim: encaixou apenas uma peça solta, só para a chatice do sinal de calar. 

E foi isto. Esta nunca tinha sequer sonhado que existia. 

Português (não tão) suave I

Pi, 06.10.16

Já todos vimos, ouvimos,  e comentámos o mal que se escreve por aí. As redes sociais trouxeram-nos o contacto com todo o mundo, o que foi bom, a opinião desse mundo todo (nem sempre tão bom), e trouxeram ainda o mau português que se escreve por aí (péssimo). Temos de o olhar de frente, quando o vemos já não o podemos não ver. Se eu trocava as redes sociais por melhor português? Não, tiveram tempo de o aprender, e estão a tempo de o corrigir. Adiante.

Lemos frequentemente quem não percebe como funciona um hífen, mas hoje não é o que me leva a escrever. Não é esse erro, não menos grave, que abre esta série. Para escrever sobre o hífen, sou capaz de ter de beber qualquer coisa para rirmos um bocadinho. 

Há - por Belenos, vejo tantas vezes - quem escreva "saio" julgando, crendo, estar a dizer "saiu". E vice-versa. Juro, palavrinhadonra.

Mas como é que lêem, em "o teu filho saio ao pai", "ele saio agora mesmo", ou "já saio o novo episódio? ", "saiu"?! Ninguém sabe.

Saio é saio, o "a" aberto, o "i" discreto, e o "o" desmaiado. "Saiu" é foneticamente o oposto, o "a" sumido, um "i" imponente, e um "u" a dizer "eu estou aqui!".

Saio é presente saiu é passado. Saio é primeira pessoa do singular, saiu é terceira do singular.

Onde, onde conseguem ler "saiu" em "saio"? Quem sabe ler e escrever, tropeça ali. Por exemplo,  num elogio a um bebé: "saio mesmo à mãe!". Afinal quem é que sai à mãe do bebé? O próprio, o adulto que está a comentar? Ou está a anunciar,  num post ao calhas, que sai à mãe? Decidiu naquele momento, no nascimento de outro ser, gritar ao mundo o quão semelhante é à sua progenitora. Não, não foi isso, tenho quase - quase - a certeza. 

O mesmo se passa ao contrário: "hoje saiu às três", e fica-se ali a pensar "ah sim? Que bom. Mas quem...?", e é o próprio, claro, onde é que eu tinha a cabeça? Ou "Quando saiu à noite..." e uma pessoa fica: "quem e quando...?", a achar "lá me perdi na conversa outra vez, já não sei de quem falamos", e não é foi, ainda é, é presente. Não é fácil. 

Saio é saio. Saiu é saiu. Não consigo ler da mesma forma. E o erro não é meu, asseguro.