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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Garfield, Deus, e o Japão

Pi, 15.01.17

Num ano, Andrew Garfield fez dois filmes passados no Japão, nos quais Deus é seu guia e companhia: "Silêncio", de Martin Scorsese, e "Hacksaw Ridge", de Mel Gibson.

Vi ambos esta semana, e é engraçado como há mesmo um ponto em que quase se tocam, mesmo sendo passados em épocas tão diferentes e personagens tão díspares.

Dê qual gostei mais? Bom, um é Scorsese e a minha religião é contra não gostar de um filme dele. "Hacksaw Ridge" é um filme de guerra (gosto muito), e tem o Sam Worthington. Não é fácil decidir. Na dúvida, vejam os dois. Foi o que fiz. 

Dos Globos, aos bocadinhos

Pi, 14.01.17

Eu sei, ela divertiu-se muito, antes muerta que sencilla, e essas coisas todas. Já lá vamos. 

Sofia Vergara é sempre espectacular, e admito que vê-la geralmente basta, é bem provável que nem sempre seja ouvida. Eu preferia não a ter ouvido nos Globos, se calhar já chega da piada da latina-não-sabe-falar-e-já-agora-metemos-aqui-um-trocadilho-ordinário. A Sofia e a sua espectacularidade merecem um bocadinho mais.

Para quem não viu, a espectacular Sofia apareceu no seu espectacular vestido de rendas, brilhos e transparências, com o seu não menos espectacular busto, toda ela maravilhosa. E espectacular. A deixa que lhe estava destinada envolvia todo um malabarismo com a palavra anual e os enganos de uma pessoa chegada de um buraco na Colômbia há três minutos. Somos capazes de um bocadinho mais que isto. 

Bem sei, quem a viu, pouco ou nada ouviu, a própria já disse que prefere ser ridícula do que aborrecida, mas fica a nota. Merece decididamente mais e melhor. 

Correndo o risco

Pi, 11.01.17

De soar a septuagenário, a viver circa 1957, há uma coisa que me maça no Galaxy S7.

Gosto muito dele, não tenhamos ilusões. Tenho espaço para tudo e um par de botas, apps a perder de vista, todas as minhas redes sociais, uma imagem bestial, vídeos em slow motion, fotos panorâmicas, tudo impecável. 

Mas - e palavrinhadonra, eu não costumo ser adversa à evolução - por que carga de água - até nos termos me sinto recuarr no tempo, senhores - não tem rádio? 

Ando bastante de transportes e a pé, e costumo ouvir rádio no telefone - quando o tem, claro está. Encontro alternativas, naturalmente, há apps de rádio e podcasts, mas um rádio no telefone é que eu queria mesmo.

Já li que tem possibilidade de ter, mais não sei quê, mas que há Europa ainda não dá e assim. Não sei, alguém sabe e ajuda uma pessoa presa em 1957?

11/365

A L e o Pai Natal

Pi, 10.01.17

Está fora de época, bem sei, mas nunca é tarde para guardar memórias.

Por altura do Natal (já depois), fui com a minha amiga T e os dois filhos a Cascais, ver a aldeia do Natal. Andámos pelo parque, demos a volta à aldeia, vimos nazarenos e romanos, renas, um trenó e um carrossel. O tempo estava bom e o espaço era engraçado. 

IMG_20161229_201955_710.jpgO D não quis ir à casa do Pai Natal, mas a L sim. Foi com a mãe, e nós esperámo-las cá fora. 

Enquanto esperávamos, saíram umas  três crianças, da mesma idade e pouco mais velhas que a L (4 anos), e a sentença era unânime:

- Era mesmo o Pai Natal!

- Era mesmo o verdadeiro!

- Era ele, até tinha uma coroa! 

Esperei pela opinião da L que, à saída, não tinha dúvidas: "Olha, era mesmo o Pai Natal a sério. Era mesmo ele!"

Tenho para mim que aquela coroa foi um adereço muito bem pensado. Em terra de Pai Natal de shopping, quem tem coroa é rei (ou o verdadeiro). A coroa era imponente, diga-se. Até eu, quando vi a fotografia da L ao lado do senhor, de barba e cabelo imaculados, impecavelmente vestido, e coroa reluzente na cabeça, pensei "é bem capaz de ser ele é..." 

 

10/365

Eu queria falar dos Globos de Ouro, mas o rito tem de ser salvo

Pi, 09.01.17

Queria falar nos Globos de Ouro, mas atrasei-me, e ainda não vi tudo. Eu atrasei-me, e entretanto passam-se outras coisas à nossa volta. O mundo não pára, é verdade, e com ele não param paixões inflamadas, ódios estapafúrdios, e disparates galopantes. Por enquanto parece acontecer mais atrás de teclados, mas nunca se sabe. 

Houve um tempo - às vezes sinto-me muito antiga, se calhar sou - em que a morte impunha respeito. Continuo a ter-lhe bastante. Não sou de quaresmas e sextas feiras Santas em silêncio, não sou de retiros ou meditações. Mas a morte é uma coisa que me põe em sentido. Alinho nos rituais assumidos em sociedade, como o minuto de silêncio. Todos os silêncios. Perante a morte, silêncio e respeito. Aparentemente não é assim para toda a gente. O silêncio depois da morte também tem de se merecer. Isto não faz sentido para mim, mas enfim, cada um fará como entender. 

Atrás de um teclado também vale desejar e celebrar a morte. Era outra coisa que eu não sabia, até há uns anos. Talvez seja o preço a pagar por estar em contacto com muito mais opiniões, maneiras de ser, valores e formas de expressão. Não sei. Sei que, e pode parecer tetrico, mas o minuto de silêncio era um momento em conjunto,  de que eu gostava. Aquele momento em que milhares de pessoas, de pé, em silêncio, respeitavam não necessariamente quem tinha morrido, mas a morte.

Mas pior, pior que um minuto de silêncio de assobios e apupos, que concedo poderem ter motivos - com reservas, mas não tenho nada a ver com isso, lá está, cada um faz o que quer - foram três palermas, adultos, tão antigos quanto eu, a tirar fotos para mostrar que tinham ido ao estádio, durante o minuto de silêncio. O rito não é nada, de facto.

Tinha sido muito mais animado um post sobre os Globos eu sei. Talvez amanhã. 

9/365

Ainda estou trémula (não estou, mas podia)

Pi, 08.01.17

Mamãe diz hoje, pela hora de almoço:

- Então o Djalson era para voltar agora, olha o que lhe aconteceu...

E mostra-me a fotografia de um pé partido. Claro que eu não ouvi "Djalson", mas Gelson, e dei um grito. 

Depois ri-me, por achar que a minha mãe teria o boletim clínico do Gelson, mas na altura até suei frio.

Precisamos todos de ter mais calma na vidinha em geral, é um facto. As melhoras as Djalson, que um pé partido nunca pode ser bom, e ele vive de dançar. 

8/365

Dia de reis, sem saber ler

Pi, 06.01.17

Esta manhã, no centro de saúde, uma senhora veio pedir-me que lhe lesse três cartas (nada de muito romântico, EDP, SMAS e Egas Moniz) por não saber ler. Li, naturalmente, mas não pude deixar de pensar no que é um mundo sem saber ler. Eu sei que se sobrevive, sei que as pessoas se desembaraçam como tiver de ser - "às vezes peço aos meus vizinhos", disse-me - mas até o pormenor de incerteza - "esta  deve ser do hospital", apontando para o logo verde no envelope - me fez pensar como será viver sem uma pista do que diz seja onde for. Quem nunca soube, possivelmente não sentirá um abismo, mas é essa a imagem que me vem à cabeça. Um vazio enorme de informação. Mas são pessoas ricas de outras coisas, dir-me-ão. E eu digo, para já, que isso é um piroseira, e depois, não é só não ler jornais ou livros, é mesmo um logo não nos parecer certo. Também já soube de casos de uma pessoa que até às compras vai e nunca se engana, e aproveita promoções. Não se fica um atado sem saber ler, eu sei. Eu saber é que estraga isto tudo. 

Tinha reparado no casal antes, ouvi a senhora perguntar "já chamaram o nosso?", o marido responder primeiro um pouco brusco "não", como quem diz "ainda aqui estamos", mas depois percebeu e respondeu "para o nosso não". 

Quando a mulher me abordou, ele manteve-se no lugar, calado, olhar em frente. Pode não saber ler, mas não baixa os olhos perante a sua fraqueza ou o desembaraço da mulher. 

6/365

Maria ao quinto dia

Pi, 05.01.17

A propósito da lista de nomes mais usados em 2016, a TVI foi à rua saber sobre estes e outros nomes, sobre escolhas dos pais, e nomes invulgares. 

Perguntaram a uma senhora (que devia ser mais nova que eu, mas o género era feminino, senhora portanto) se gostava do nome Maria. Que não, "não sou muito adepta desses nomes muito... À reis e rainhas." Muito bem, gostos são gostos e não se discutem. 

Mas... Maria é nome de rainha? É, de facto tivemos duas. Também é nome de santa, a maior de todas (digo eu), e nome de milhões de mulheres, em séculos de Marias neste país. E é nome de bolacha.

Maria é Maria, senhores. Não há nome mais português, mais sóbrio e despretensioso. Eu sei que há modas, mas Maria até nessas circunstâncias é muito discreto, há nomes que dão muito mais nas vistas quando são moda.

E debrucemo-nos sobre a definição apuradissima "à reis e rainhas". Que é isto? Eu percebo onde quer chegar, ainda que discorde, mas é assim que se defende um conceito? Durante as reticências eu achei que se seguiria "antigos", "conservadores", "portugueses". Qualquer deles seria mais eficaz e TV friendly. Não dominar conceitos pode ser um problema, de facto.

Voltando à entrevistada que não gosta de nomes de reis e rainhas, livre-nos Deus de a criança sair de coroa e ceptro, com a mania que manda. Perguntaram-lhe que nome daria a uma menina (relembro que nomes pretensiosos, não obrigada). 

Resposta a "e se fosse uma menina?“: "Diva." 

Obrigada, e boa noite.

5/365

Dia 4. Taxidermia ou Animais de parede

Pi, 04.01.17

Tenho mixed feelings, nada de muito sério, é aquela confusão entre um "ah, tão giro!" e o imediato "mas parece errado". Falo daquelas taxidermias de parede que há, umas cabeças de animal - calma, já explico - em peluche ou em cartão (é procurar por  exemplo "faux taxidermy", "plush taxidermy", ou "cardboard taxidermy" - muito importante colocar a primeira palavra, ou vão, naturalmente, dar com imagens infelizes de animais verdadeiros!). 

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Eu assumo, quando vi quer umas quer outras, gostei logo, achei graça àquele falso assumido. Há tecidos maravilhosos (já vi um veado em chita de Alcobaça!), cartões crus, de xadrez ou mil cores, de uma só cor ou douradas, inventa-se de tudo, e ainda bem. E repito, gosto do falso assumido, do "isto nunca quis ser uma cabeça de animal, só estamos a aproveitar o suporte e a ideia", como flores numa espingarda (eu não disse cravo), vejo assim. A reciclagem de uma coisa sinistra, para uma coisa fofa.

Mas no segundo seguinte, quando vi, fez-me alguma impressão, por tentar recriar uma cabeça de animal na parede, daquelas tenebrosas. Ainda por cima, algumas são pensadas para quartos de crianças, e eu até percebo que seja provável uma criança não associar que falta o resto do animal, mesmo nas de verdade. Mas será coisa para prolongar no tempo? "Antigamente fazia-se isto com cabeças de animais a sério, javalis, veados... Hum? Exacto, como o Bambi!". Sou franca, em criança raramente as vi, mas sei que até passar debaixo de uma, me tirava o sono à noite. 

Fiquei a pensar se estaria certo - para mim, não para o mundo, quem sou eu? - invocar essa coisa, mesmo que a brincar. Ainda hoje não sei bem. Continuo a ver e a achar graça. E continuo a repensar.

Por outro lado, se eu uso e gosto de pêlo falso em volta de um carapuço, de pêlo falso no forro dos meus casacos, de animal print em tudo e um par de botas, que diferença haverá entre isso e um rinoceronte em cartão na parede?

Hum... Não sei, hesito. 

 

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