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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Vent'anni di Azzurro

Pi, 29.10.17

Isto é só uma dobradela de cantinho, que a data merece. 

Se há vinte anos houvesse twitter, eu faria hoje um tweet assim: “Lucaaaaa, nãããoooo! Humpf, cala-te Gianluigi Buffon”. O Luca seria o Pagliuca, e em 97 eu estava habituada a ele. Como estivera a Zenga, como não estive muito a Peruzzi ou Toldo, ou vá, menos tempo. Mas não me lembro de mais nenhum por tanto tempo. 

Buffon impôs-se-me. Se há vinte anos o via como o rookie - com o ligeiro desprezo que isso me merecia -, hoje dói pensar que está prestes a despedir-se. Porque não vi tantas vezes outro guarda-redes com a Itália. Porque não me lembro de Zoff, e só com Buffon celebrei um mundial. Porque não me lembro de outro que gritasse o hino de olhos fechados, ou falasse da Azzurra sempre com a mesma emoção e entrega. Que tenha metido um pé numa porta de vidro durante o Mundial, por ter perdido no ping pong. Que dissesse que foi estes vinte anos foram o melhor presente que alguma vez recebeu.

Tem um defeitozinho (a meu ver), que não condiz com o resto: virar-se de costas quando a sua equipa marca penalties. É discutível, concedo, mas não adoro. Por outro lado, tem um potencial latino e dramático enorme, e por aí talvez me convencesse. Mas não adoro não (adorando-o, sempre). 

Que está menos rápido, que está mais pesado e velho. Seja, já ninguém lhe (e me) tira ter sido o maior nestes últimos anos.  E sim, assumidamente dos mais giros e com maior pinta. 

 

 

173 jogos

68 clean sheets

1 Mundial

Buffon faz hoje vinte anos de selecção. E cá estamos. Contando com muita força, e alguma violência, ir à Rússia. 

“20 anni d’azzurro il regalo più bello della mia vita”

Gianluigi Buffon

 

Os fogos. Mais ou menos de dentro.

Pi, 27.10.17

De manhã, eram oito e meia, hora da depilação (demasiado cedo para tal tortura, bem sei). Ocorre-me perguntar, porque nunca sei bem onde é: 

- Tem alguém nas zonas dos incêndios?

Eu achei que sim, mas não tinha a noção de quão próxima a S estava da situação. 

- A minha aldeia é lá. Ardeu tudo até à porta das casas. 

Puxão atrás de puxão, foi contando. 

Perdeu o contacto com a família depois de um "Olha olha, chegou à casa dos pais!". A chamada caiu ainda no domingo, e só voltou a ter notícias segunda feira. Por desencontros, estradas e comunicações cortadas, só segunda feira soube que a família estava bem e as casas (e só as casas, tudo se estragou, quase tudo se perdeu) salvas. 

Mal senti a cera hoje. Eu é que toquei no assunto, e perante o pragmatismo da S, sentir qualquer dor seria ridículo.

Não houve luz, água ou telecomunicações até sexta feira seguinte. O único multibanco só no fim de semana voltou a funcionar. A S, o marido e alguns voluntários conseguiram levar bens de primeira necessidade às pessoas. Três toneladas deles. 

- Quando cheguei à minha aldeia, já não tinha lágrimas para chorar. Conhecer tudo como era, verde, e ver agora tudo preto, tudo queimado...

Foram de porta em porta saber de que precisavam as pessoas. Algumas perguntaram se não tinham "umas ferramentas, para poder consertar algumas coisas".

A S contou sem pretensiosismos. Eu é que puxei o tema, sem pensar bem no que por aí vinha.

Acrescentar só o que já temos ouvido e a S reiterou: toda a vida houve ali incêndios "mas nunca nada como este ano". 

 

PS: Naturalmente não terá sido novidade para ninguém é só mais duro ouvir na primeira pessoa. Não o ouvimos vezes suficientes. Decoramos e mastigamos o que nos entra pelas notícias, sabemos de cor o que nos chega nos rescaldos. Mas ouvir assim, nunca tinha ouvido. Dói mais.