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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Todos ao Trindade!

Pi, 29.12.18

Corram, comprem os vossos bilhetes, se puderem não deixem de ir ao teatro da Trindade até 27 de Janeiro.

Que se passa afinal? Está em cena "A pior comédia do mundo" que é possivelmente a melhor do que tenho visto.

Há uma peça dentro da peça, há o palco e os bastidores - da peça e das relações entre os actores. Há um belo texto de suporte a tudo isto.

O primeiro acto começa bem, dá-nos o que precisamos para o resto: conhecemos personagens suas taras e manias, o enredo, somos até alertados para a importância dos adereços e sua deslocação ao longo de uma peça. Quando chega o segundo acto... Preparem-se para teatro espectáculo, num festival de marcações e falas tão bem interpretado quanto hilariante. 

"A pior comédia do mundo" tem encenação de Fernando Gomes, e é representada por: José Pedro Gomes, Inês Aires Pereira, Jorge Mourato, Ana Cloe, Cristóvão Campos, Elsa Galvão  Fernando Gomes, Paula Só e Samuel Alves.

Spoiler alert: não há escatologia. Sim, é possível o humor sem cocó e xixi. 

Instantes suburbanos

Pi, 14.12.18

Cenário: carruagem do comboio praticamente vazia: na parte da frente estariam cinco ou seis pessoas, na parte de trás, três contando já comigo. 

Entrou um senhor de idade, curvado e aborrecido, resmungando para uma das mulheres, sentada nos lugares reservados.

- Sentam-se no lugar reservado às pessoas ... - e agitava o jornal que trazia na mão. E tinha a sua razão. O comboio estava vazio quando ela entrou, porquê aquele lugar? Nunca percebi a preferência. 

Ah, mas pode estar grávida ou magoada e não se notar  Verdade  contemplei essa possibilidade, aqueles lugares até são mais perto da porta, teria menos para andar ao sair e tal... A resposta veio da própria. 

Aparentemente o senhor continuou a reclamar (não vi porque estava de costas para a frente do comboio), porque a dita mulher sentada nos lugares reservados começou a sua defesa, levantando a voz:

- Que é que foi? Vá você! Tanto lugar vazio e vem cá marrar comigo... 

Eu sei, eu sei, havia de facto muitos lugares vazios e o senhor devia estar mal disposto - também acredito que seja recorrente ver aqueles lugares ocupados. Mas não acho que houvesse grande argumento aqui. Dizer "vá você" ou "que é que foi?" enquanto atira a cabeça para trás, não dão razão a ninguém. Antes tivesse um pé torcido. 

Mas não é inédito. Andamos fartos uns dos outros, no virtual, no real. Ou teremos sido sempre assim? Estou a usar o plural, mas nunca teria tido aquela reacção. Nenhuma das duas, agora que penso nisso. Não saberemos falar uns com os outros se não nos conhecermos? Podia ser o pai dela, podia ser a filha dele. Falarão sempre assim? 

 

Bohemian Rhapsody. Visto e adorado.

Pi, 12.12.18
Eu sei que li algures não sei o quê sobre qualquer coisa que faltava ao filme. Não me lembro, nem importa. Não me faltou nada a não ser mais música talvez. Mas isso é um apetite que fica depois de ver Bohemian Rhapsody, não falha de quem o fez. 

Vivemos tempos em que tudo tem de ser profundo e justificado. Sinceramente não há muita paciência para fundamentalismo a toda a hora, e no cinema, no entretenimento então menos ainda. Não confundamos com exigência. Adiante. 

Eu não vivi Queen ou Freddie Mercury no seu auge. Nem sequer posso dizer que tenha vivido sem ser pela rádio ou cassetes gravadas e desgravadas por cima, com o cuidado de não apanhar vozes em cima da música.

Queen foi primeiro o "Kind of Magic" a das festas de Natal da escola e depois alguns sucessos no Top Disco, teria uma 7 ou 8 anos. 

Mas nos anos 90, logo após a morte de Freddie Mercury, ouviu-se muito Queen neste país (e suponho, pelo mundo). Deste tempo sim, tenho memória, ouvia-se, viam-se vídeos, houve uma nova educação para quem queria conhecer Queen. Na altura vi e revi um documentário sobre Freddie Mercury, que já estava meio apagado na minha mente. É dessa altura que me lembro de ouvir o Love of My Life entoado pelo público no Rio de Janeiro, na rádio. Admito que esta versão estava adormecida na minha memória e quando a adivinhei no filme, me arrepiei. 

Gostei muito de "Bohemian Rhapsody". Soube um pouco mais da banda (que casting fabuloso, até o Bob Geldof está igual - eu sei que ele não faz parte dos Queen - e o Brian May parece ter sido metido numa máquina do tempo). Não é uma biografia de Freddie Mercury, é uma vida de Queen, na qual ele teve o papel principal quer se queira quer não. 

Perceber que "We will Rock You" foi feita a pensar na participação do público, que todos eram tudo na banda, que o memorável Live Aid foi tão à pele e já com Freddie Mercury doente. Saber um pouco mais e ouvir Queen. Há piores idas ao cinema.