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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Castellucci no CCB (já passou)

Pi, 17.06.19
Admiro a criatividade e a genialidade nas mais diversas formas. Sem dúvida que das cabeças que mais me intrigam são as de encenadores, cenógrafos e coreógrafos (como guionistas, escritores ou realizadores). Ter a capacidade de imaginar um todo e dar-lhe vida, parece-me tocar o Olimpo.

A Paixão segundo S. Mateus, de Bach, encenada por Romeu Castellucci é uma instalação viva, ou várias, que nos passam pelos olhos em quase três horas que não custam a passar. Enquanto inclui figurantes e elementos da cidade em que se apresenta, homenageia a fé de verdadeiros sobreviventes e ainda inclui química e física no palco. Só vendo, creio. 

Tínhamos um livro de apoio, legendas do que é cantado - saber a Paixão de cor não quer dizer que a entenda em alemão -, e esta vibe Laranja Mecânica (coro, cantores, maestro e orquestra todos de branco, num cenário imaculado). Às vezes temo modernices em palco, mas esta valeu muito a pena. 

Se não conhecem, quando lerem o nome Romeu Castellucci dêem uma oportunida

Woodstock, visto daqui para lá

Pi, 15.06.19
Eu nem contei, mas conto agora, que fui ao CCB ver o documentário de Michael Wadleigh (cuja edição tem, entre outras, mão de Martin Scorsese) sobre Woodstock, que teve três nomeações e ganhou o Oscar para melhor documentário em 1970. Não tinha expectativas altas nem baixas, como muita gente, sabia vagamente quem passou pelo palco, e que tinha havido lama, droga e banhos de rio. Felizmente fui surpreendida. 

Então não me senti transportada até ao recinto, numa quinta em Bethel, a norte de Nova Iorque? Uma ideia de dois miúdos que podia ter corrido tão mal, onde eram esperadas 50 mil pessoas e apareceram 400 mil (um milhão contando com os arredores), mas com apelos de peace and love constantes, lá se foi dando. Bravo, gerações de 50 e 60. 

Uma chuvada e tanta gente ensopada, a lama do dia seguinte, é claro que tinha de haver banhos de rio a seguir (e antes e durante). 

E o público. Miúdos, graúdos, bebés. A população local, ao contrário de nos filmes, compreensiva com os miúdos, conformada com a invasão a escassez pontual de alimentos. Pais com um filho no festival outro no Vietname, serenos com toda aquela gente em redor. 

Ver Santana quase menino, rever os gestos de Joe Cocker - só o conheci bem mais tarde, mas os movimentos eram os mesmos -, Roger Daltrey (sempre com Pete Townshend numa perfeita liderança a dois), o único homem do Rock que deu dignidade a caracóis. Ainda Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Joan Baez, Jefferson Airplane, Richie Havens, Ravi Shankar, Arlo Guthrie, Cannes Heat, Ten Years After, Crosby Stills Nash & Young são nomes a ver e ouvir no documentário. 

Admito que a minha ideia de Woodstock reflectia algum first world drama, mas acreditem quando vos digo que um dos pontos altos é a eficácia na limpeza das casas de banho portáteis em 1969. Nem sei se nos dias de hoje é assim por cá, mas há 50 anos não era certamente, estávamos bem longe destas andanças, com outros dias, outros tempos em mãos. Outro exemplo é a resolução imediata e local de problemas como alimentar toda a gente. É possível que se tenha passado fome, mas houve passos dados para pelo menos remediar isso, sem dúvida. Ninguém estava só por si ali. 

O melhor de tudo: ver na assistência do CCB ( minha mãe incluída), maioritariamente acima dos 60 anos, cabeças a abanar acompanhando o rock que cá chegava e viviam tão intensamente noutro tempo. Adorei. Acho que amo Woodstock afinal. Peace!