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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Live and let live ou esta era uma onda em que eu entrava

Pi, 28.10.20

Desde que não ficasse tudo piroso, vá. 

Escreveu a Alice um dia destes um post intitulado "Como lidam com os comentários maldosos no vosso blogue?". É um facto que os comentários deviam estar na ordem do dia, é assunto para trazer para cima da mesa. Desvalorizamos, ignoramos e vão proliferando os comentários amargos, zangados, disparatados e pior de tudo, violentos. Somos mesmo isto? 

Este parágrafo tocou-me particularmente porque me revi nele: 

Escrevo sempre de coração aberto, tentando chegar, desta forma, ao coração das pessoas que me leem. O meu caminho vai sempre no lado do bem e fico um pouco desarmada quando apanho comentários depreciativos e maldosos, apesar de já levar com eles há muitos anos. Criei uma carapaça a este género de comentários que também contribuíram para aumentar os filtros na hora de escrever.

A carapaça ainda é uma fina pelicula, no meu caso, ainda escolho não escrever mais vezes do que ter de ler e ignorar. É um caminho. Detesto ter deixado de escrever "de coração aberto" tanto tempo, mas não consegui reagir de outra forma. Detesto-me por isso, por ceder, por deixar a minha pegada digital muito mais ténue só porque acho que me vou aborrecer mais se o fizer do que se não. E nem é tanto no blog, por aqui as coisas são mais ou menos tranquilas. Acontece algum tough love, mais noutros blogs onde escrevo (como o Delito e o És a Nossa Fé), mas também nestes ainda há a discussão saudável, ou opiniões que são mesmo isso, vou até mais longe, ao comentário que tenta ensinar alguma coisa (e às vezes não ensina, mas enfim, há uma boa intenção) não é desses comentários que se fala aqui.

Aquele comentário gratuito, aquele atirar de pedra, apontar o dedo inquisitório sem pensar muito. O que leva alguém a fazer um send depois de escrever um insulto, muitas vezes vindo do nada, só gratuito? Pessoalmente, acho que não fomos habituados a estruturar uma ideia para a dar depois, então fazem-se rascunhos por todo o lado. Depois, ninguém está para se retratar constantemente ou pedir desculpa, ficam ali para sempre, não nos conhecemos mesmo uns aos outros... Não sei, tento ter uma lógica e no fim não deve haver nenhuma, é assim porque as pessoas são assim e pronto. Toda a gente pode dizer o que quer, mas convenhamos que se diz muita coisa que não interessa a ninguém. Mais, ajuda ninguém a nada. 

Só que depois, que vontade há em ficar numa página, perfil ou blog onde só há ofensas e insultos? Quem é moderado afasta-se ou simplesmente cala - é o que me acontece - porque não está para se aborrecer ou ser alvo de trolls e se deixa de ser divertido ou interessante, perde-se a ligação. Gostava que houvesse um movimento, uma corrente, mas uma coisa orgânica, uma vontade no fundo,  de bons comentários, ou comentários francos, mas que ajudassem a diluir os outros, nada tem de desaparecer, na minha opinião não se apagam comentários salvo raras excepções e essas ficam ao critério de cada autor ou marca. 

Quino para sempre e para todos

Pi, 01.10.20

"Después de leer a Mafalda me di cuenta de que lo que te aproxima más a la felicidad es la quinoterapia."

Gabriel García Márquez

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Perdemos o meu professor favorito de Ciência Política. 

É assim que vejo os livros da Mafalda hoje, à distância - distância da primeira vez que os li, nunca física, que tenho uma edição recente de "Toda a Mafalda" como livro de mesa de café, e nem tenho a dita mesa, para que se veja! 

Os meus pais também têm desde que me lembro, o "Não me Grite", que me mostrou que aquele Q redondinho, na assinatura, não era exclusivo da menina contestarária de cabelo volumoso. 

Em criança, não era óbvio para mim que Argentina e Portugal fossem muito diferentes. Aquelas pessoas podiam estar em Buenos Aires, os seus dramas vivam também na Ajuda ou na Madragoa. Eu ía percebendo aos poucos que aquilo era humor e conversa que se ouvia aos adultos. Ali, a conversa dos adultos fazia-me rir, eu estava a perceber aquilo. 

Com a Mafaldinha era ainda melhor. Tinhamos a mesma idade, o mesmo dia a dia, eu só não estava tão atenta a notícias como ela, nem tinha um globo, teria de me chegar o atlas. Mas tinhamos a escola, os amigos, os pais, a televisão. A certa altura a Mafalda até tinha um irmão...  e eu também tinha tido um. Era oficial: eu conseguia perceber aquela vida, não podiam ser muito diferentes, aquele mundo dela e o meu. Ainda hoje, na minha cabeça, são tiras da Mafalda que ilustram inúmeras situações do dia a dia. 
Quino soube trazer a sabedoria das crianças à luz do dia dos adultos. 

Teremos perdido Quino, nunca a Quinoterapia.