A Lena. Histórias contadas no recreio
Na escola onde andei, havia uma educadora que não era sempre simpática, se é que alguma vez. Não me lembro de ser muito afectuosa, era até um pouco ríspida. Mas não era a minha, era da outra sala dos 4 anos, então não sei como seria estar um dia inteiro com a Lena. Eu evitava-a, na dúvida.
O que eu sei, e nunca me esqueci, era que adorava quando era a Lena quem ficava connosco, no intervalo maior, de inverno (ou quando não se podia ir para o recreio). A Lena contava histórias, como não me lembro de mais ninguém contar.
Ficávamos no salão, sentados no chão, de bibes e os nossos 4 anos, pernas cruzadas, e a Lena contava a "A Bela e o Monstro", "A princesa e o sal", "A guardadora de patos" e outras assim, e eu ficava pendurada naquelas palavras, nas pausas, nas exclamações e moral da história. Não me cansava, mesmo que já as conhecesse, era mágico. Ali, a Lena era dona e senhora, e por mim, tudo bem, adorava aqueles intervalos, mesmo que não pudessemos andar a correr e a saltar. A alternativa parecia-me bestial, era dia de mais uma história. E, não posso jurar, mas arrisco que era geral.
Hoje ouvi a Patricya Travassos "a coisa que eu mais adorava que os adultos fizessem comigo, era contar uma história", no "Que história é essa, Porchat" e viajei até ao salão, na Estrela. Também era - ainda é - das coisas que mais gosto: uma boa história, ou uma história mesmo bem contada.