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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Caiu a máscara

Pi, 22.04.22

Lembro-me de, ao aproximar-se a obrigatoriedade de usar máscara, me sentir pressionada, contrariada, não queria nada. As únicas pessoas que vira de máscara cirurgica na rua, eram de fora e via sempre aquilo como um excesso de cuidado que, para mim, não se justificava. Não que eu tivesse alguma coisa a ver com isso, mas achava sempre, presunçosamente, um exagero. 

Em Março de 2020 passei a ter de usar uma, se quisesse ir fazer compras, por exemplo. Também digo que só me custou uma primeira saída de máscara, depois acabei por me habituar. Encontrei o modelo que me fazia sentir menos desconfortável e, de lá para cá, cheguei ao ponto de me esquecer dela posta - numa fase em que já não era obrigatória na rua -, numa viagem de carro, de Sintra a Lisboa. Não foi devoção ou obediência cega, é que também sou um bocadinho cabeça no ar. E, lá está, desconfortável não estava. Ultimamente, quase não usava ao ar livre, só mesmo onde era obrigarória ou eu visse muita gente junta. Usava nos transportes públicos e pouco mais.

Esta semana duas amigas comentaram que os filhos, ambos com 15 anos, se habituaram às máscaras em apresentações de trabalho à turma por exemplo. Entendo-os. Ir à frente, na sala de aula, representava todo um leque de possibilidades de perder o controlo. Fosse para os mais tímidos, a exposição, fosse o riso de alguém que nos podia contagiar, aos 15 anos há coisas que têm uma importância desmesurada. Não tenho dúvidas que se voltarão a habituar ao não usar máscara, são fases. Não tem de ser tudo uma tese, são coisas que acontecem nas nossas vidas e eles, como eu, concluíram.

Hoje, a máscara deixou de ser obrigatória em quase todo o lado. Já se levantavam questões sobre algumas incoerências, já era tempo talvez, algum dia teríamos de tirar mais umas rodinhas para continuar a andar. Não estranhei a notícia, mas também não esperava dar por mim a pensar nos locais onde usava e agora não é preciso. Num pequeno desfilar, foram-me passando pela cabeça:

- Ah, no centro comercial!

- Em lojas... no supermercado!

- No estádio!

E, sendo um alívio, foi ali um meio segundo de sensação de "sem rede" (do trapézio, não rede móvel. Não pensaram nisso? Avancemos então.). De ontem para hoje, falei com pessoas que sentiram esta estranheza também. E rimos, não se trata de um drama, somos de hábitos, só isso, foi a conclusão lógica. Não é uma insegurança, não desenvolvi qualquer síndrome ou psicose que não tivesse antes de usar uma máscara. É um marco na nossa - na minha, se quiserem ficar de fora - existência e quero guardar o que senti e pensei nesta altura, que se espera que seja definitiva.