Fui ver... era o bombeiro
Uma noite destas, entre fins de semana de trabalho, queria eu descansar o mais que pudesse, não ganhei para o susto.
Dormia o meu primeiro sono, bem lançada para um descanso profundo, quando um dos meus pesadelos ganhou vida. Comecei a sentir - longe, lá ao longe - que batiam a todas as portas. Quis, sem esperança nenhuma, que não chegasse à minha. Chegou, claro, quem bateria a todas as portas menos uma, às duas e pouco da manhã?
Levantei-me, já com o coração a mil, ouvindo as vozes lá fora:
- Quem está no 5⁰?
- Eu!
- E no 4⁰?
- A Mariana!
Trôpega, quase na porta, ocorreu-me: "ou é gang, ou bombeiros/polícia. Nenhuma é boa notícia. "
Abri. Era um bombeiro. Alguém deixara qualquer coisa ao lume e tinham sido chamados.
- Cheira muito a queimado, mas já está controlado.
E o cheiro entrou, instalando-se pela casa.
- Viemos ver se não há mais nada, se não é daqui.
Confesso que não sei se foi isto que me disse, de qualquer forma virei-me para a minha cozinha, sem ver nada, diga-se, e respondi:
- Daqui não é... - não sei o que procurava.
No patamar, de outra porta, alguém perguntava "mas temos de sair?" e eu, com tanto sono, só pensava "por favor, não, sei lá onde está a roupa agora". A roupa estava (toda) onde está sempre.
Eu tinha sono, mas na verdade ainda abri janelas, para o cheiro e para ficar a ver as luzes do carro, que reflectiam azul intermitente prédio acima. Tirando as luzes, estava tudo calmo, bombeiros tranquilos conversavam lá em baixo. Tinha sono, tanto, mas com o susto de ouvir a porta de madrugada, só voltei a adormecer depois de ver o carro deixar a rua.