Apagão
20:31
Não está frio, embora se sinta já uma ligeiramente fresca brisa. Estou na varanda à espera que a energia volte, olhando cada casa que tenho no horizonte, em busca de uma luz acesa, um clarão da TV.
Estamos assim desde as 11 da manhã e sente-se bem a ausência da electricidade num dia. Um dia de trabalho, um dia de ginásio, um dia de estar em casa.
Vi muita gente passear aqui nas redondezas hoje. Grupos, famílias, pessoas em bicicletas, não é costume, como não é costume eu ter tempo para estar só a contemplar. Talvez o tenha e não o faça muito, só isso.
Todo o dia houve um silêncio diferente. Ouviram-se mais os pássaros, sem os ruídos de cada casa que não pensei nos enchessem assim até a rua.
Agora está a escurecer e daqui a pouco só lanternas e velas nos acompanharão na espera do sono. Talvez um podcast sobreviva. Há séculos que quero um rádio de pilhas e hoje arrependo-me muito da procrastinação em geral, mas desta em particular. Depois de ficar sem rede móvel, perdi o contacto com o exterior, notícias, família e amigos. Voltei a receber mensagens há pouco mais de uma hora.
Diz a protecção civil que a energia está a ser reposta gradualmente, apelando à serenidade. O que não terá sido este dia em desesperos e reclamações. De farmácias e supermercados fechados, a medicação que precisa de frio e gente no metro e elevadores. Mais as baterias, todas as baterias a acabar e nós sem as poder recarregar.
Muito menos grave e totalmente de primeiro mundo, mas o texto é meu escrevo o que me apetece, episódios de podcasts, vídeos no YouTube, acumulam-se, que a segunda é forte em conteúdos. Ainda consegui receber o Record, para ler e reler sobre as façanhas desse viking que é Viktor Gyökeres.
Mas agora já me apetece um scroll. O povo é sereno, mas sente falta do instagram.
PS: a luz voltou pelas 21h. Mas Varandas parecia fim de ano. Estamos bem dependentes desta jigajoga que é a energia.