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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

"A Criada" de Freida McFadden

Pi, 21.12.23

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"...lá de cima é feita de papelão"

Canções infantis bizarras à parte, é verdade, li "A Criada", de Freida McFadden. Sou assim, não posso ver um fenómeno que põe pessoas a ler, fico curiosa e quero saber o que lá vai dentro. A curiosidade - não só neste campo - será o meu fim, estou quase certa. Mas enquanto não o é, vou sabendo um pouco mais de... pessoas...? Não sei bem.

Uma sinopse:

Este emprego caiu-me do céu. Talvez seja a minha última oportunidade para mudar de vida. E o melhor de tudo é que aqui ninguém sabe nada acerca do meu passado. Posso esconder-me e fingir ser aquilo que eu quiser. Infelizmente, não tardo a descobrir que os segredos dos Winchester são muito mais perigosos do que os meus…

Bom, o que achei do livro? O que esperava, é um page-turner, o que pega mais facilmente que outro tipo de livro. Não é óptimo nem definitivamente péssimo, é um thriller um pouco previsível embora também consiga surpreender, porque até vemos onde vai dar, mas dá umas voltas até lá chegar. Não só me foi surpreendendo aqui e ali, como admito que me arrepiou numa cena em particular, quase no fim. Lembrou-me "Gone Girl", no mais positivo sentido possível, na medida em que nada é o que parece e há segredos em cada canto. Não li, mas gostei muito do filme quando o vi.  

"A Criada" lê-se bem, mas eu devia ter lido a versão original, não gostei muito da tradução. Percebo que haja expressões idiomáticas dificeis ou desafiantes, mas quando o português me soa inventado torço o nariz: por exemplo, há uma frase  "a minha coluna transforma-se em líquido" numa situação de tensão, se a usamos - mea culpa - desconheço. E - admito que esta é uma embirração minha - por que é que tradutores usam e abusam do verbo "perscrutar"? Eu sei que esta é uma palavra portuguesa, está bem usada no contexto, mas há sinónimos mais coloquiais, "perscrutar" faz-me sempre tropeçar na leitura.

Enfim, história é bem construída e cativa, cumpre e entretém, não se perde em ler, percebe-se porque é um livro sensação. É preciso que se leia mais, e incluo-me o mais possível nisto, leio actualmente menos do que gostaria. Então olhem, cada um lê o que entender e está tudo bem.

PS: Mas se puderem, leiam o original, é capaz de melhorar a experiência.

 

De/o Acordo

Pi, 17.12.23

Quando chego a casa é um alívio despir o acordo ortográfico. 

Também não o uso nas minhas redes, verdade seja dita, mas a primeira frase fica mais bonita como está, digo eu. O Acordo entrou-nos vida dentro pela escola ou pelo trabalho e nem todos tivemos como lhe fugir.

Já há gerações que aprenderam com ele, e facilita uniformizar, bem sei. Não sou uma feroz opositora, já fui mais crítica da coisa, mas não me ofende. Já dei por mim a usá-lo em mensagens privadas, no whatsapp com amigos, até. Se por exemplo alguém me escreve sem acordo ortográfico e respondo usando alguma das mesmas palavras, também me sinto arrogante se a escrever com a grafia antiga (que continua a ser a minha), por isso não o faço.

Mas continuo a achar absurdo que o pê caia do Egipto, se o egícpio continua a ter de o carregar. Chateia-me muito quando teimam comigo que contacto "já não tem c", se até o lêmos. Letras que se dizem - tenham lá paciência - não omito, seja onde for. 

Em suma, uso-o profissionalmente, evito-o fora disso, embora já me espreite a vida privada. Já não me aborrece tanto, só que ainda me apetece usar pês e cês mudos, deixem-me cá.

Vamos Todos Morrer. Hoje mais pesado.

Pi, 14.12.23

Dos meus podcasts preferidos e que ouço diariamente, é "Vamos Todos Morrer", do Hugo van Der Ding. Gosto muito de História, mas ainda gosto mais da História contada a brincar, a rir, sem se cingir a datas e factos. Com os delírios do autor, tendo Tiago Ribeiro e Ana Markl completamente alinhados, "Vamos Todos Morrer" ainda fica melhor.
Mas - há sempre um mas - de vez em quando lá vem um episódio mais pesado, também necessário, como foi o caso do de hoje, sobre Cheryl Araújo, a lusodescendente que inspirou o filme "Os Acusados", um filme que é o chamado soco no estômago.
Sabia que "Os Acusados" se baseava numa história verídica, mas nunca soube a história original com todos os seus sinistros e revoltantes contornos. Ainda é pior que no filme, se é que é possível. Ouvi-la hoje no "Vamos Todos Morrer" foi arrepiante. É o "pôs-se a jeito" em todo o seu horror, que esplendor não se aplica mesmo aqui, até a minissaia é literal no caso. O desfecho bate em todos os lados e está tudo errado ali. Da violação ao julgamento e enxovalho hiper públicos, da misoginia em toda a linha, à xenofobia que se seguiu. Uma humilhação e sofrimento sem fim para a vítima. Tudo muito triste, uma vida infeliz - pelo menos entre os 21 e o fim -, que terminou aos 25 anos num acidente de viação, sem justiça feita.

Se quiserem ver e ouvir, o episódio de hoje, está aqui.

Um outro pedacinho do dia por Milão - San Siro

Pi, 11.12.23

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No mesmo dia em que vi a "Última Ceia" tinha guardado uma parte do dia para um não menos sagrado, pelo menos para mim, estádio Giuesppe Meazza ou San Siro.

Nos anos 90 despertei para o futebol italiano, na altura Itália e a serie A eram o topo, o destino dos melhores entre os melhores. Foi nessa década que comecei a reconhecer nomes, caras e pés de jogadores que ficaram para sempre as minhas referências. E Milão foi provavelmente a cidade a que mais prestei atenção futebolísticamente falando, nos primeiros 4 ou 5 anos depois 1990. Não tenho preferências de norte a sul de Itália, mas AC Milan com os 3 holandeses, e Inter de Milão com os 3 alemães, foram as equipas que primeiro me cativaram na adolescência.

Ainda por Milão, tinha então bilhete para uma outra visita, bem diferente do Cenacolo Vinciano: San Siro aguardava-me finalmente.

À chegada dirigir-me ao museu, que não é muito grande, mas está cheio de camisolas, dos mais de cem anos de cada clube, visitantes ilustres e glórias mundiais de décadas e décadas. Um sonho em lã, algodão e muito polyester. Há também troféus - não tenho a certeza de já ter estado perante uma taça da Liga dos Campeões (tenho, nunca estive) - e galhardetes, luvas e bolas de várias épocas. Revi ali camisolas de guarda-redes que adorei, temíveis avançados, defesas inabaláveis. E médios de sonho, naturalmente.

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Saídos do museu, seguimos para a visita ao estádio. Fizemos o percurso dos jogadores, da zona de entrevistas ao campo, passando pelo balneário de cada uma das equipas da casa - sendo o do Milan de bancos individuais, privilegiando cada jogador, o do Inter, banco corrido, valorizando mais o conjunto, conforme nos explicou o guia. 

No balneário do Milan perguntou-nos quem eram os nossos jogadores favoritos, respondi que talvez Girou, o que o levou (talvez um "ru" bem dito) a pensar que tenho um sotaque francês. Disse-lhe que era portuguesa, o que lhe suscitou novo espanto "E o seu preferido não é Leão?!" Expliquei que sei que é "un bravo giocatore", mas a minha religião não me permite. Entendedores entenderão o amargo que ainda sinto a pensar em rescisões, saídas, enfim, ficamos assim. Ou melhor, seguimos com a visita.

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Uma breve visita ao balneário do Inter, um corredor cheio de fotos de velhas glórias, tantas dos meus queridos anos 90, e seguimos pelos corredores até ao campo. Já no último, o dito túnel, é posto som ambiente do estádio, para uma experiência mais imersiva.

Subi as escadas e foi o segundo "nem acredito que aqui estou" do dia (o primeiro está no post anterior). Do relvado via todo o estádio, grandioso, já num misto moderno/antigo mas ainda com tanto do que via em resumos ao Domingo à tarde.

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À saída tive ainda a agradável - mais que isso, super - surpresa de haver uma exposição sobre os 125 anos da selecção italiana, a minha squadra azzurra. Mais um desfile de camisolas e nomes que me dizem muito. Entre vencedores e vencidos, demorei-me um pouco mais em frente às vitrines de 90 e 94, 2006 e 2020/21. As primeiras camisolas merecem menção honrosa, embora não fossem muito confortáveis, suspeito.  De Meazza a Buffon, há muitos símbolos ali representados, um sonho para tiffosi azzurri.

A visita tem uma duração confortável para ver com tempo, estar no relavdo e bancada tempo suficiente para apreciar e tirar umas fotos. Melhor, só mesmo ir em dia de jogo, numa próxima vez em Milão.

Última Ceia - Cenacolo Vinciano

Pi, 06.12.23

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Dividi os meus dias, de 30 de Novembro a 4 de Dezembro assim: 

30/11 - Bergamo

1/12 - Milão, com partida e regresso a Bergamo

2/12 - Bergamo

3/12 - Brescia, com partida e regresso a Bergamo

4/12 - Bergamo, dia de regresso.

Foi uma forma de conhecer mais 3 cidades italianas numa só visita, embora Milão seja definitivamente para voltar. Sempre achei impossível não gostar da cidade, agora tenho a certeza.

O dia em Milão começou na estação de comboios, onde cheguei pouco depois das 10h (saí de Bergamo às 9h03, cada viagem custou 6 euros) e merecia um pouco mais de atenção, mas eu não queria perder tempo de manhã. Tinha a visita à "Última Ceia" marcada para as 11h30 e não queria distrair-me com nada antes disso. Já tinha app dos transportes de Milão instalada no telefone, comprei o bilhete para um dia (7 euros) e segui para o metro. 

Cheguei perto da Santa Maria delle Grazie, ainda não eram 11h, fascinada à primeira vista pelos prédios da Via Giovanni Boccaccio, já a pensar "como é que sempre me disseram que Milão não era bonita?!". Tomei um café no Caffè Ruffini - penso sempre que não estou à altura dos "Buongiorno!"  que me saúdam de trás do balcão, chego-me perto para responder, os italianos respondem à distância, projectando a voz. Um dia aprenderei a ser assim.

Tratei de levantar o bilhete - só ficamos com comprovativo da reserva, o bilhete aguarda-nos lá -, disseram-me que 15 minutos antes podia levantar o audioguida, por isso fui até à igreja antes da visita. Cinco minutos antes da hora, uma guia começa a falar connosco, testamos o som e que maravilha: é a sua voz que ouvimos. Num grupo de 30/35 pessoas, fazendo uma visita, nada mais esperto que a voz de quem nos acompanha chegar tão democraticamente a cada um, sem termos de nos atropelar por um lugar mais perto da sua voz. Parecendo que não, a experiência é outra. Simpática, explicou-nos o que podíamos e não podíamos fazer lá dentro, explicou o percurso e controlos necessários na entrada, fez-nos o enquadramento histórico, e sossegou-nos dizendo que quando entrássemos na sala principal, se calaria uns segundos, para que cada um pudesse ter o seu próprio e único impacto. Gosto de guias com sensibilidade. Lá fomos. 

Num primeiro claustro somos isolados - a porta por onde entrámos fecha-se e a seguinte só abre depois de essa primeira fechar e o grupo anterior sair. Ao som de uns bem relembrados "no video", "no flash, please", entrei no refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie e tive o meu momento. Ao virar-me para a direita, levantei os olhos para a parede e ali estava ela, a ´"Ultima Ceia" e seus azuis, por Da Vinci, a verdadeira, tantas vezes reproduzida por essas salas de jantar. Se me emocionei? Sim. Não sei bem explicar, cada pessoa terá as suas referências, eu vibro com Mestre Leonardo. A cena já foi vista tanta vez, mas chegar ali e ver o original tem definitivamente impacto. 

Enquanto tirávamos fotografias, ouvíamos a guia explicar a luz, orientação e profundidade do affresco Vinciano. Era comum a Última Ceia ser representada em refeitórios de mosteiros, mas Leonardo da Vinci trouxe inovação começando logo por colocar todos os... hum... comensais de um só lado da mesa, criando uma barreira entre nós e a espiritualidade da cena. Além disso, os elementos na arquitectura são poucos, amplificando também ela a espiritualidade do momento, a janela é como uma auréola. Na cara e gestos de cada apóstolo um sentimento diferente, do medo à incredulidade, da indignação à compaixão. Judas segura os seus 30 dinheiros e Pedro uma faca. 

O último restauro da obra de Leonardo da Vinci teve início em 1977 e terminou em 1999, quando finalmente foi aberto ao público. Discute-se se ainda se pode considerar como sendo o original, dadas as reparações de que foi alvo, grande parte passando por repintar por cima da parede, que miraculosamente (ha!) escapou a um bombardeamento em 1943.

Dali seguimos para loja e novo claustro, depois visita à igreja, mas os melhores 15 minutos foram mesmo aqueles em frente à parede do refeitório.

Estive por Bergamo

Pi, 05.12.23

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Marquei esta viagem quando soube que o Sporting jogava em Bergamo no fim de Novembro. Mas não a marquei apenas com esse intuito, sabendo que seria difícil ter bilhete para o jogo. Desde o ano passado, em que estive em Bolonha e acabei por não ir a Milão, tinha esse plano. Marquei então 5 dias em Bergamo, já a pensar ir a Milão um dia e outra cidade talvez. 

Quando pensei ir a Milão, em 2022, lembrei-me que era giro aproveitar para ver a "Última Ceia" de Da Vinci. Era muito giro, pois era, mas reserva-se com 3 meses de antecedência, eu é que não sabia disso. Ficou adiado, mas aconteceu mais cedo do que (não) pensei. 

Voos e hotel marcados, esperei pela abertura de reservas para o Cenacolo Vinciano, marquei tour ao estádio de San Siro, faltava só esperar que chegasse dia 29 Novembro.

Não começou de forma espectacular porque o voo, para as 17h, atrasou 3h. Assim mesmo: aprsentado na app, nos ecrãs, antes das 17h: 20h. E eu a fazer contas à hora a que ía chegar a Bergamo, mais uma que cá. Sabia que o hotel não era longe da estação e que havia transporte até à uma e meia para o centro da cidade, de qualquer maneira uma cidade desconhecida e onde teria de percorrer algum desse caminho a pé. 

Voo animado, muitas camisolas e cachecóis verdes e brancos. Bilhetes nem por isso, mas eu tinha planos para os dias que se seguiam, estava animada. 

Chegada a Bergamo, segui como planeei: air bus para o centro, gps ligado e caminhar até ao hotel. A cidade dormia, tudo parecia pacato. Pelas duas da manhã estava no quarto, no quentinho, depois de um pequeno diálogo com o rececpionista do hotel, que me pareceu lamentar o quarto ser de não fumadores (eu nunca fumei). Dormi pouco, mas quinta, sexta, sábado e domingo eram dias para descobrir Bergamo, Milão e Brescia que entretanto tinha escolhido para visitar também.

Pelo YouTube - Fulanos de Cá

Pi, 22.11.23

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De há uns meses a esta parte, vejo muito mais YouTube. Foi natural, apesar de sentir já há bastante tempo que devia, também devido ao trabalho, estar mais a par do que por lá se passa. E nem começou nos confinamentos, foi mais recentemente, já nem sei bem porquê. Sei que de vídeo em vídeo, tenho descoberto como rir ao serão.

Foi assim que me tornei seguidora d'Os Primos. Num mês e pouco vi tudo o que estava disponível no YouTube e Patreon, ri muito e fui-me familiarizando com nomes e referências daquela rede - não concordo que o YouTube não tenha o seu lado de rede social, como já tenho ouvido. Conhecia alguns nomes dos chamados youtubers, mas é mais tolerável e divertido ver alguns conteúdos, pela lente destes dois amigos da Margem Sul. Despretensiosos, engraçados, sensíveis, gosto muito desta situação do croissant misto prensado que são Os Primos.

Falo n'Os Primos porque esta semana apareceu uma relíquia pelo YouTube, a qual pude perceber, muito graças ao curso intensivo que fiz com Os Primos, sobre youtubers, seus hábitos e peripécias, familiares, amigos e gatos (já me estou a rir). Fulanos de Cá é fresco e hilariante, e resume várias das referências que hoje também são minhas. Não vale a pena discorrer sobre elas, porque ou seria spoiler para quem ainda não viu, ou um enigma desinteressante para quem passa ao lado das mesmas. Mas devo dizer que o fim do vídeo, com uma das frases involuntariamente mais engraçadas do YouTube - outra vez o gato -, acabou comigo.

No fundo este post tem a ver com referências, gosto muito de as ter e reconhecer. Angustia-me não chegar a todas de todo sempre do mundo. Mas quando me cruzo com as minhas, é maravilhoso. Já não é mau.

Acompanhar a estrelinha

Pi, 20.11.23

Post originalmente escrito para o És a Nossa Fé.

Deixem-me cá escrever, que os meses passam, não sabemos o que vem por aí e depois não me lembro, ou tenho pena de não deixar registos.

É a busca de emoções que me leva ao estádio e ao pavilhão, é o Sporting com tudo que contém. São as referências, da época ou de anos, o culto, hábitos e superstições ("a ola dá golo dos outros"). São golos e memórias de jogadores, as homenagens, os minutos de silêncio, tudo isto também emoção. 

Durante os jogos de futebol no estádio, gosto de acompanhar os cânticos, de os conhecer, rir com alguns, estar solidária com outros, e enquanto os canto não roo as unhas. Desde criança sempre gostei de saber o que se canta em Alvalade. Alguns acompanham-nos desde pelo menos os meus anos de adolescente - e já lá vão trinta -, outros são mais recentes, mas marcaram o seu tempo. Como esquecer que "Só eu sei por que não fico em casa", tão verdadeiro e sentido, para bem e para menos bem, que surgiu depois de tantos anos sem um campeonato. Só nós sabemos, pois.

Mas o que me traz hoje, voltei a ouvir domingo passado, vindo da superior norte, cantado por mais gente do que julguei sabê-lo. Levou-me a um passado recente, em que estávamos desta vez sim, em casa, não de livre vontade, a ver a nossa equipa sénior masculina triunfar semana após semana, "de três em três a somar", quando nasceu o "onde vai um vão todos" e a bendita "estrelinha a acompanhar". Foi muito bem conseguido e ao ouvi-lo agora ali viajei até essa altura, em que ver o Sporting, mais uma vez, foi, mais que um consolo, uma alegria, nesses dias que demoravam a passar.

Nós não sabemos, estamos ainda em Novembro, mas se não é neste estádio (ou onde jogue o Sporting) que se canta a esperança interminável, não sei onde será.

Deixo a letra:

Allez allez Sporting allez
De 3 em 3 a somar
Onde vai um vão todos
E a estrelinha a acompanhar
Façam-nos acreditar
Que no fim vamos vencer
Onde vai um vão todos
Vamos sem nada a temer

 

PS: quem não quer não canta, é simples.

"The Crown" - Diana affair

Pi, 18.11.23

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Li que os primeiros 4 episódios de "The Crown" são um "Diana Show", assim, com laivos de desprezo e tudo. Que é tudo à volta dela, que chatice, tão prevísivel (como assim? Não é propriamente desconhecida a sua biografia) e nada a ver com o resto. Não temos de ter apego a tudo, é bem mais simples não ter, mas às vezes parece que tudo é só para consumo instantâneo, mastiga deita fora (não demora mesmo, é passar ao próximo).

Ora, eu já os vi todos também. Percebo a ideia, não discordo, porque é de facto sobre ela, mas faria sentido vasculhar muito mais Balmoral, quando naqueles dias tudo esteve tão exposto?

Diana, a princesa, Lady Di, sempre foi, quisesse ou não, o centro das atenções, na chamada imprensa cor-de-rosa sobretudo. Não me espanta que se tenham feito 4 episódios neste registo mais tabloid, pois foi pelo que se pautou a última e dramática fase da sua vida. 

Não me chateou nem ofendeu, não esperava diferente. Revivi 1997, a tv, Holas e quejandos, o guarda-roupa, de tantas vezes se viram e reviram os últimos meses de vida de Diana Spencer. Tempos tristes.

Os restantes episódios, que estreiam em Dezembro, terão provavelmente o mesmo registo do resto da belíssima série, não nos enervemos. Foi mais o desapego, num "sirvam-me, entretenham-me, satisfaçam-me", num queixume de perda de tempo, que me fez escrever também.

A hora yo-yo (escrevemos yo-yo ou iô-iô?)

Pi, 22.05.23

 io-iôs mexicanos Tomas Castelazo / Divulgação

Sempre que um dia fica encoberto, e se torna mais escuro do que seria suposto àquela hora, sou levada a um tempo, de escola, em que o yo-yo regressava. Os brinquedos e brincadeiras eram cíclicos até certa idade. Ou talvez eu os tenha arrumado assim na memória. Mas o yo-yo surgia ali por Outubro - sei que já estávamos em aulas há um tempo, mas ainda não era inverno, arrisco Outubro. 

Já escurecia cedo, mas ainda não estava muito frio. E os yo-yos começavam a aparecer. Os Russel da Coca Cola, Sprite e Fanta, os mais simpes, opacos ou transparentes, os de luzes, os Five Stars! Não me lembro nada de quanto custavam, mas quase toda a gente acabava por ter o seu, comprado muitas vezes na papelaria do bairro. Também se compravam cordeis à parte, para substituir o que vinha de origem. Já não sei se era pelos nós - no meu caso, nó cego era a maior habilidade possível -, se porque eram melhores ou especiais de corrida. E depois havia um dia em que a dita papelaria - era só aqui? - organizava um concurso e lá íamos ver habilidades e verdadeiras acrobacias, em cordel e plástico colorido. Mais tarde viria o diablo, talvez o mais próximo, mas esse já não acompanhei, pelo menos na óptica do utilizador.

É a este episódio, tão fim dos anos 80, que me levam dias mais cinzentos ainda sem muito frio. Podia dar-me para pior.