Mancini, Vialli (esquecido) e cia. Continuo em celebrações
Maio de 1992, estádio de Wembley. Joga-se a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus (a última antes do rebranding para Liga do Campeões), um tempo em que as finais europeias são sagradamente à quarta-feira. São quartas que definem taças dos mais que todos os outros, a Taça das Taças, a UEFA e esta, a melhor de todas, a dos Campeões Europeus, só para campeões.
Reconheço jogadores do Itália 90, do Euro 88. Reconheço caras da caderneta do Mundial, sei quem são estas pessoas que talvez só veja jogar uma vez por outra, nos resumos do Domingo Desportivo. Vejo o jogo todo, com o meu irmão e a minha mãe.
Sei quem é o Barcelona, sei quem são Koeman e Cruijff. Reconheço Zubizarreta, Salinas, Guardiola e Bakero. Sei que são fortes e eu até sempre gostei dos mais fortes, dos clássicos, dos nomes grandes da Europa.
Mas durante todo o jogo, estive pela Sampdoria, sem hesitar. Mancini e Vialli já me apaixonavam há dois anos, Pagliuca no seu arrojado equipamento preto, rosa e turqueza não me deixava desviar o olhar. Bonettis, Lombardos, Manninis, todos os nomes me soavam mais que familiares, naturais ao ouvido. Vialli no banco, toalha sobre a cabeça.
O resultado foi 0-1 para o Barcelona, um golo de livre de Koeman, ainda hoje a minha referência de defesa central (eu sei, devia actualizar-me). Mas adiante, que não é disso que se trata aqui.
Em 2016 ouvi Vialli a falar na Web Summit. Falou desta noite, deste jogo, de como não dormiu noites seguidas a pensar naquela derrota. Já este ano ouvi Pagliuca num live com Zenga, dizer que este era o jogo que repetiria se pudesse viajar no tempo (Zenga repetiria o Itália - Argentina do Mundial de 90). Terem estas memórias e mágoas faz parte do jogo, da paixão, deles e minha.
Mancio chega-nos trinta anos depois como o seleccionador campeão da Europa, com a sua Itália, com a qual nunca alcançou um título. Mancini que quis ter junto a si, Lombardo e Vialli, companheiros daquela Sampdoria. Ainda chamou Oriali, campeão do mundo de 82, e De Rossi, campeão do mundo de 2006. Mancini que aparece de casaco Bearzot 82... Um Mancini que defende que para ganhar "bisogna divertirsi" (é preciso divertirmo-nos).
Ver Mancini festejar com Lombardo e Evani, Vialli correr do banco para o abraçar, saber que Vialli virou amuleto desde que se esqueceram dele no primeiro jogo, com a Turquia (amuleto perfeito), ver estes meus jogadores, jogadores dos anos em que mais gostei e acompanhei o futebol, ganharem com a sua selacção, aquela que adoptei por amor, é mágico, não se explica muito bem. Quando parece que a magia já é pouca no futebol, tudo é técnica e basculações, e eu não acompanho - mas sei ver que até as substituições com Mancini são entusiasmantes -, as emoções e memórias atropelam-nos e voltamos a apaixonar-nos. Nunca deixei de amar aquela Sampdoria campeã de Itália e parte dela veio agora celebrar comigo o Europeu, com a Itália que sempre me apaixonou. Foi bonito. Adesso divertiamoci (divertamo-nos agora).