Rir devia ser o melhor genérico
Não sei porquê, não se olha para o humor como para outras formas de arte. Como para a música, a pintura ou a literatura. Não se vêem reacções tão indignadas se um livro não nos agrada e está num top, ou aquela banda não é a nossa favorita e há quem a ouça. Talvez não pareça, mas o humor e seus autores não são todos iguais. E isso é o melhor de tudo.
Não rimos todos do mesmo, até porque não controlamos (ou não devíamos) o que nos faz rir, ou quando, o que pode já ter causado bons e maus embaraços. O riso é uma reacção involuntária, espontânea e individual, uma ferramenta ao nosso dispor para viver melhor.
Eu posso rir com o/a humorista A, B, D, F e H.
Uma amiga rirá com o/a humorista A, C, D, E e F.
Um amigo, só com o G.
Outro, com o C, E, F, G e H.
Um rirá de tudo e ainda um outro que "não gosto de coisas para rir".
O que está errado aqui? Nada, absolutamente nada.
Mas há no ar uma má relação com o riso, não sei se um complexo, uma culpa. Tenta-se impor aos outros, no humor, o que não se faria com outra actividade: "Não me digas que te ris disso, nunca pensei....", "Mas achas graça a esse? ", ou "Tens de ver, vais morrer a rir". Talvez com músicas ou livros se faça pontualmente, mas não com a indignação que o humor desperta.
Que é que eu acho também? Ou nem sou eu, ficou-me cá na memória. Uma vez, uma professora, determinada e serena, numa aula do 3º ano de História, garantiu: "As pessoas não dominam conceitos e têm de dominar conceitos..." Eu também não sei tudo, mas tento ter uma opinião minimamente informada, que não se meça apenas pela forma como acordei, ou com um dedo molhado ao vento.
Mas o que se vê e ouve, são muitas frases feitas e mastigadas, repetidas à náusea, tudo com o "destilar ódio" na ponta dos dedos, como ouvimos recentemente, um prepotente "se me faz rir é porque é bom", implicando a ideia de se não me faz rir é porque humilha, que eu cá sou muito boa pessoa. Rir não tem a ver com isso, rir devia ser o desanso, uma breve suspensão das obrigações, chatices e convenções sociais (nunca da democracia, viram o que fiz aqui?). É alias muitas vezes o que nos é oposto que nos faz rir, o que não esperamos, o que nos surpreende.
Não surpreendentemente, é aqui que quero chegar: Anjos vs Joana Marques. Mas fica para um novo post.