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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Notti Magiche. Do azzurro Diadora a Puma broccato

Pi, 21.07.21

Uma introdução: Portugal tinha estado em 1986 e só regressaria a estes palcos em 1996. Nesse intervalo adoptei uma selecção para apoiar e ela entranhou-se-me na alma.

Em 1990 tinha mais noção do que era um Mundial, de como funcionava, de quem lá estaria até. Foi o Mundial de Itália que me tornei azzzurra para a vida. 

A Itália ficou em terceiro lugar nesse ano, mas isso não me importava, eram os melhores, os mais apaixonados, a camisola mais bonita de todas - ainda hoje aquele é que é para mim o verdadeiro azzurro. Azzurro Diadora é o verdadeiro-, os mais giros, mesmo que não fossem bonitos. 

Nessun Dorma é a música desse mundial e não podia haver melhor combinação para a divulgação do evento, uma memória ao som de Nessun Dorma é inesquecível. Mas a música feita para o Itália 90 é "Un'estate italiana", de Gianna Nannini e Edoardo Bennato. Essa sim, a que fala ao cuore azzurro. 

Pois bem, este Europeu teve Italia 90 vibes, como já escrevi aqui. E não bastando os jogos em Roma marcarem bem essa memória, no fim de cada jogo, esta era uma das músicas que a Squadra Azzurra (quase todos nascidos depois de 1990), entoava entusiasticamente no autocarro. 

Este ano a camisola é Puma e num brocado que nos leva ao Renascimento, celebrando a influência da cultura italiana no mundo e no próprio futebol (goste-se ou não). Se não a achei tão bonita como a de 90 (ou 2000, outra que marca pelo arrojo), é apaixonante que una passado e presente numa referência universal como o Renascimento. Calhou bem, que também esteve na comitiva, um Lorenzo, il Magnifico. 

Maradona. O R a piscar na TV

Pi, 27.11.20

Ficámos então sem Maradona. Raios te quebrem, Diego Armando, que nós sabíamos da possibilidade mas não o queríamos ver. 

Sabemos que o futebol pode infelizmente ser um lodo. Mas no meio desse pantano, além do jogo que é sempre bonito de ver, há as histórias que nos apaixonam. Os momentos que marcam e ficam para sempre. Os detalhes que não nos deixam, a nós que gostamos de o seguir, largar, por mais que a lama nos tente prender ao fundo. Há muitas histórias, milhares de minutos que fazem deste o desporto rei. O bom de não saber muitas delas? É que ainda há muito por conhecer... Mas vamos a Maradona. 

Maradona... Maradona foi apaixonante, queiramos ou não. Não quero estar aqui a falar no que foi fora de campo, não é o que fica, nem o que mais me lembra El Pibe e ainda bem. Respeitarei sempre o futebolista que foi Diego Maradona. Futebolista é uma palavra que já quase não se usa, mas em 86 era-se futebolista. Nos anos 80, quando o R piscava no canto da TV para indicar que estávamos a ver a repetição de um golo, Maradona viveu o seu pleno. Respeitarei sempre um homem que fez uma cidade inteira apaixonar-se por si - para não dizer o seu país. Eu sei que é argentino, que a Argentina o vive e respira. Mas é também napolitano. E é em Nápoles a minha história favorita de Maradona. (Esta parte do texto ficou sem querer no presente, e se calhar vou deixá-la ficar assim.)

Vamos até 90, o ano do meu mundial de eleição. Que é o que teve menos golos, já sei. Mas é o mais bonito, talvez por me levar ao início dos meus adorados anos 90, em que aqueles que eu viria a acompanhar nessa década estavam uns no início, outros já no topo. É o primeiro dos últimos do futebol não moderno e eu ainda tenho saudades desse. É aquele em que a camisola de Itália continua a ser a minha favorita. É o dos Camarões que o meu avô admirou nesse verão. É um mundial onde ainda se viam vencedores eufóricos, e vencidos a chorar (eles ainda o fazem, verdade seja dita, mas as transmissões já não mostram tanto tudo). 

Estamos a 3 de julho de 1990 então, quis o destino que a meia final fosse não só Itália - Argentina, como que acontecesse em Nápoles, cidade que adoptou Maradona, que foi a sua glória e desgraça - ambos se confundem naqueles anos. Estavam reunidas as condições para o drama, para uma outra divisão de Itália cuja unificação já não foi pacífica. Diz-se, escreveu-se, que teria dito qualquer coisa como a Itália ignorar Nápoles 364 dias num ano"Pero no, yo soy napolitano los 365 días al año."  Talvez não tenha sido exactamente assim, mas é um detalhe que serve o propósito, a ideia é que a sua cidade devia estar do seu lado, contra o próprio país. Não é uma questão de lógica, é paixão, lá está. Talvez hoje sejam só factos e uma historieta, mas eu ainda me lembro de pensar (acho que ainda penso tal qual): "foi logo jogar em Nápoles contra a Itália..." e eu gosto de sentir o futebol assim. 

No estádio lia-se (e desta há fotos), ainda que pudesse não falar por todos: “Maradona Napoli ti ama ma l'Italia è la nostra patria.” , ora aqui temos mais paixão, Itália é perita nisto dos dramas e o amor também, é parte do que me faz estar sempre de olho na Squadra Azzurra. 

No fim, a Argentina seguiu para a final e a Itália chorou (belissimi!).
Mas tenho para mim que Nápoles ganharia sempre este jogo... por paixão.