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Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Da vida de Pi

Da vida de Pi... nilla. Vivo de ler e escrever. De ler escritas, de escrever leituras, de debater termos e criar frases. Aqui escrevo da vidinha. Vidinha de Pi, é isso.

Das amigas. Principe Rodrigo

Pi, 03.05.13

Bárbara fala ao telefone. 

 

BárbaraAh pois, estava a dizer-te: então disse ao Rodrigo “queres ir dormir para o teu quarto? É isso que tu queres, é?”. Ah sim, sim, teve de ser. Estava a fazer uma birra... foi remédio santo. Pronto, era só isto que te queria contar. Tive de o repreender. 

Está bem, estamos combinadas para amanhã. Preciso de desabafar, fiquei abalada com este castigo. Beijinhos, querida. - desliga.  

RitaOuvi bem? Castigaste o príncipe Rodrigo?

BárbaraAi, não me digas nada. Custou-me tanto. Mas teve de ser, fez-me uma birra tal à hora e deitar... Disse-lhe (Bárbara finge que se zanga, numa voz infantil): "Queres ir para o castigo? Queres ir dormir no teu quarto, na tua cama? É isso que queres? Então se não é, pára de chorar.” E ele acalmou. Mas custou-me.


Mónica e Rita olham uma para a outra incrédulas.


MónicaOlha, eu já sei que não sei porque não sou mãe, mas o castigo é o Rodrigo dormir no quarto dele, na cama dele?!

Bárbara -  Claro, ele detesta!

RitaMas o Rodrigo um dia vai ter 16 anos. E eu sei que pensas que vou dizer que não pode dormir para sempre contigo, mas para perceberes vou ser mais clara: ele não vai querer dormir contigo para sempre.

Mónica - E que falta de higiene, Bárbara. Além de que ele já tem 5 anos.

Bárbara -  Tu não percebes. E tu tens quatro filhos, Rita, não seria fácil dormir com todos, eu percebo. Ele gosta de dormir com a mãe...

Rita - Lembra-te só que isso não faz de ti mais mãe.

Mónica - Claro que a Bárbara nos diz que sim a tudo, mas no fundo pensa (Mónica imita exageradamente Bárbara):  "eu é que sou a que sou mais mãe, o meu filho gosta mesmo de mim e esse amor mede-se pela vontade de dormir na minha cama, e o inversamente proporcional horror ao quarto dele”.


Rita ri, Bárbara fica aborrecida


Bárbara - Ai, que parvas... não digas isso, é o meu bebé.

RitaQue há-de ter onze anos, e meia personalidade nas saias da mãe.

Bárbara Oh, é amor, não vês?

RitaVejo, vejo. Vi quatro vezes que não os devia deixar a dormir na minha cama – na verdade nem me passou pela cabeça – e todos os quatro estão aí, independentes e não deixam de ser meigos.

Bárbara - Mas e a ligação à mãe? Isso nada paga.

Rita - Hello? A mãe sou eu, lembras-te? E eles não gostam menos de mim por terem dormido cada um na sua cama.

Bárbara - Não quis dizer isso. Mas o meu não vive sem mim. Muito menos dorme sem mim.

Mónica - Está bem. Então quando levares um namorado lá a casa, quero ver como é à hora de deitar. Imagina, Rita...

Rita - Sim, já estou a ver a Bárbara: "Olha, o Rodrigo dorme aqui connosco, se não te importas."


Mónica e Rita riem.


Bárbara - Um quê?! Estão loucas?

Mónica - Ah, claro... a Bárbara morreu para o sexo, já me esquecia.

Rita - Olha Bárbara, isso é uma tolice tão grande, mas tão grande, que te vou fazer o favor de a ignorar. Então e tu Mónica, como tens andado? O Pedro? 


Continua...

AInda as amigas

Pi, 29.04.13

Continuação deste post


Bárbara - A Mariana está óptima!

Mónica - Silicone.

Bárbara - E a Patrícia está na mesma!

Mónica - Botox.

Bárbara - E a Clarinha...

MónicaVais falar da boca? Colagénio.

BárbaraÍa dizer que estava firme.

Mónica - Ah, as mamas? Silicone, então.

Bárbara - Mas para ti ninguém está natural?

MónicaClaro que sim. Tu estás.

Bárbara - Ah bom, obrigada.

Mónica - Porque ninguém tinha esse ar mal dormido se pudesse pagar.


Bárbara fica sentida, Mónica prossegue sem se aperceber.

  

MónicaAlém disso, desde que há rabos e – atentem! - abdominais falsos, eu acredito em tudo. 

BárbaraRabos?! Ai, não quero saber mais nada!

Rita - Abdominais?! Pára tudo! O Henrique está a ficar tão balofo, que às vezes penso que é ele que vai a caminho do quinto. Quando puderes manda-me pormenores disso para o mail. Então e o Alberto, estava lá? 

Bárbara Sim! Sabes que se manteve loiro? 


Mónica suspira.

 

Mónica - Pintado.

 

continua...

Mais das amigas

Pi, 19.04.13

(continuação deste post)


BárbaraFoi a melhor coisa que me aconteceu...

RitaOuve, a mim também. Quatro vezes a melhor coisa que me aconteceu, uma delas sem contar. A melhor coisa, mesmo com enjôos, costuras e pontos, conseguiu ser a melhor coisa que me aconteceu. Mas não deixo de ser quem sempre fui, mesmo que já não conceba a minha vida sem crocs arrumadas por tamanhos e cores, carrinhos e monstros espalhados pela casa. E barbies, temos barbies claro. Mais as pinturas e platicinas, que parece que ganham vida e andam por todo o lado.


Mónica regressa, e ouve a conversa.


Bárbara -  Mas é muito didáctico.

Rita -  Sim querida. É tudo estupendo para estimular as crianças, etc mas ao fim de quatro eles encontram estímulos uns nos outros. Percebem que se puxarem os cabelos uns aos outros em cadeia, a sinfonia é garantida. Que se brincarem com as coisas uns dos outros, dá em festival. Neste momento crio quase as crianças von trapp. Mas em gritaria.


Bárbara prepara-se para intervir, mas é interrompida por Rita.


Rita - E não me digas que somos nós que não lhes explicamos a partilha, o amor ao próximo. Está tudo mais que dito e eles até se amam, só que tendem a morder-se de amor. Quanto às plasticinas, sim, são óptimas e até me divertia a brincar com eles, mas deixá-los à solta num parque infantil ou num centro comercial também os ensina e poupa-te os sofás.

Mónica - Mas tu nunca ligaste a isso.

RitaE não ligo. Na verdade não é o sofá, mas a cabeça que me poupa. Eu explico: desde que o Henrique meteu na cabeça que sofá de pele dá status, passei a ligar. Em pele dá status, mas a pele com plasticina fluorescente agarrada, já não. Embora no outro dia tenhamos ido a um restaurante com luz branca e sofás em pele, lá está. Aí foi muito chique, se uma das crianças revela propensão para o design de interiores, está só a ser um selvagem. Não tenho pachorra, mas como não o quero ouvir mais do que devo, levo plasticina na carteira e solto os miúdos no shopping. Então e mais coisas da reunião? 


continua... 

Sabemos rir de nós? Experiência 1, 2, 3...

Pi, 18.04.13

Rita, Mónica e Bárbara estão numa esplanada.

 

Rita - Então vá, meninas. Que é que querem, para pedirmos ao senhor?  

Mónica - Eu quero uma italiana. Em chávena fria, por favor. Com adoçante. 

Bárbara - Para mim é um abatanado, em chávena escaldada. Pode ser pingado? Com açúcar. 

Rita - Eu quero um café, obrigada.


Mónica e Bárbara entreolham-se, como se o pedido de Rita fosse estapafúrdio. O empregado retira-se. 


Bárbara - Ah Rita, devias ter ido connosco à reunião do liceu, foi tão giro!  

Rita - Ai, por favor... Eu não vos percebo. Essa ideia peregrina de encontrar pessoas do passado. Mas passado daquele à séria, da Pré-História! Eu gostei muito do liceu, mas para quê mexer no passado? Agora com as redes sociais, tão avançadas, é tudo a correr para trás. Não percebo, pronto. 

Mónica - Ó Rita, foi giro sim. Se tivesses ido tinha tido muito mais para falar, a Bárbara não tem a nossa lata. Já a teve, mas agora tudo lhe parece mal.


Bárbara, nervosa, apressa-se a justificar:


Bárbara - Mónica, eu não me importo de comentar as pessoas, agora dizer à Luisa que mais valia congelar a cara e ir à reunião dos cinquenta anos que já estava bem assim, não digo.


Mónica e Rita riem. Bárbara descontrai e acaba por rir também.

  

Bárbara - Devias ter ido, perguntaram tanto por ti. E é giro saber como estamos, quem casou, quem teve filhos...   

Rita - Ora aí está. Quatro filhos não me deixam muito tempo para isso. E mais?   

Mónica - E quem não teve... 

Bárbara - Pois! Também, também! 


Mónica dirige-se ao balcão, as amigas continuam a conversar.


Rita - Ai Bárbara, tu francamente, que mania. 

Bárbara -  Saiu-me, pronto! A Carolina também não tem filhos. Coitada...  

Rita - Coitada? Mas aconteceu-lhe alguma coisa? Está doente ou assim? 

Bárbara - Não, não. Não teve filhos, é isso. 

Rita - Ah, mas está tudo bem com ela, não está? Não estava num lugar bestial lá na empresa, com uma casa espectacular e uma independência de morrer de inveja? 

Bárbara - Sim, isso sim. 

Rita - E do que me lembro, ela nunca teve grande intenção de ter família. 

Bárbara - Pois, mas eu achava que isso seria uma fase... 

Rita -  Claramente não era, então não será “coitada”... 

Bárbara - Sim, mas não é mãe... 

Rita - Ai Bárbara, tens de perder essa mania de que as pessoas só são alguém depois de parir. 

Bárbara - Mas tu tens quatro filhos, como podes falar assim? 

Rita - Por isso mesmo! Eu antes era alguém. Agora sou a mãe da Joana, do Miguel e do Pedro. Muitas vezes sou a mãe do António. Do António, repara, que nem idade para ser gente tem! No entanto, eu já só sou a mãe dele. 

Bárbara - E então, eu sou a mãe do Rodrigo. 

Rita - Eu sei, eu sei. Só falta trocar o nome nos cartões de visita e e-mail, para deixares de ter personalidade.


continua...