Eu queria falar dos Globos de Ouro, mas o rito tem de ser salvo
Queria falar nos Globos de Ouro, mas atrasei-me, e ainda não vi tudo. Eu atrasei-me, e entretanto passam-se outras coisas à nossa volta. O mundo não pára, é verdade, e com ele não param paixões inflamadas, ódios estapafúrdios, e disparates galopantes. Por enquanto parece acontecer mais atrás de teclados, mas nunca se sabe.
Houve um tempo - às vezes sinto-me muito antiga, se calhar sou - em que a morte impunha respeito. Continuo a ter-lhe bastante. Não sou de quaresmas e sextas feiras Santas em silêncio, não sou de retiros ou meditações. Mas a morte é uma coisa que me põe em sentido. Alinho nos rituais assumidos em sociedade, como o minuto de silêncio. Todos os silêncios. Perante a morte, silêncio e respeito. Aparentemente não é assim para toda a gente. O silêncio depois da morte também tem de se merecer. Isto não faz sentido para mim, mas enfim, cada um fará como entender.
Atrás de um teclado também vale desejar e celebrar a morte. Era outra coisa que eu não sabia, até há uns anos. Talvez seja o preço a pagar por estar em contacto com muito mais opiniões, maneiras de ser, valores e formas de expressão. Não sei. Sei que, e pode parecer tetrico, mas o minuto de silêncio era um momento em conjunto, de que eu gostava. Aquele momento em que milhares de pessoas, de pé, em silêncio, respeitavam não necessariamente quem tinha morrido, mas a morte.
Mas pior, pior que um minuto de silêncio de assobios e apupos, que concedo poderem ter motivos - com reservas, mas não tenho nada a ver com isso, lá está, cada um faz o que quer - foram três palermas, adultos, tão antigos quanto eu, a tirar fotos para mostrar que tinham ido ao estádio, durante o minuto de silêncio. O rito não é nada, de facto.
Tinha sido muito mais animado um post sobre os Globos eu sei. Talvez amanhã.
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