Ontem, hoje e amanhã. Sporting sempre.
- Isto hoje só nos deitamos lá para as 3, 4 da manhã, há aqui muito trabalho.
Dizia-me o meu avô, quando falávamos ao telefone, antes de eu ir lá a casa passar uns dias de férias, talvez para me convencer que os dias no quintal, no seu barracão cheio de ferramentas - incluindo um torno onde eu insistia, ou teimava, em meter os mini-dedos, entalado-os inevitável e previsivelmente naquela parte que se roda para o apertar - seriam bons e atarefados. Não que fosse preciso, eram sempre dias bem passados.
O meu avô era do Sporting, como o meu pai, tios, primos e amigos da família. A minha referência vem daqui e muito do meu avô, que no dito quintal tinha um divertido e peremptório "Solar dos Leões" num azulejo. E eu queria pertencer ao solar.
Passando para os dias de hoje, amanhã será a primeira vez que me dirijo a Alvalade (no estádio já-não-tão-novo, claro) para festejar um campeonato. É sabido que em 20/21 o celebrámos em todo o lado menos na nossa casa, devido a confinamentos e dias que nem vale a pena lembrar. Amanhã saio de casa e, mesmo que não o diga, vou o caminho todo a pensar "aqui vou eu, campeã de Portugal, juntar-me a outros campeões, comemorar com os verdadeiros campeões nacionais, na nossa casa". Levo as minhas unhas em verde e branco, entre as quais uma Stromp e uma listada, que estão comigo desde dia 3 de Maio (muita fé no coração, o sportinguista é assim) e já foram ao Marquês, e o colar que fiz, com o mantra que vem desde 2020 "e se corre bem?".
E não será um jogo como os outros, a ordem de trabalhos é extensa. Há um jogo para ganhar, uma taça a receber, jogadores e staff a celebrar, incluindo Essugo do outro lado, cânticos e aplausos até que a voz e as mãos me doam, despedidas a fazer (pretendo fazer apenas duas, recuso tudo o que não for Neto ou Adan, já referidos pelo mister como fazendo os seus últimos jogos em Alvalade). Merecemos ser felizes e um último jogo em casa vem mesmo a calhar.
Eu não vi todo o Sporting que o meu avô conheceu, ele também já não viu grande parte do meu. Mas amanhã, com a festa que se adivinha, e por que tanto esperámos, volto a pensar nele: "isto amanhã só nos deitamos lá para as 3, 4 da manhã".